Era uma vez...o meu prematuro

Era uma vez, uma mulher que tinha um sonho.
Crescera sempre com o sonho de se casar.
Sonhara toda a vida com o longo vestido branco.
A vida trocou-lhe as voltas. Engravidou aos 25 anos. Por acaso. Sempre fora de namorados fixos, de namoros mais ou menos prolongados, e a primeira vez que se "armou" em "passional" ou inconsequente, como queiram, teve como presente um exame de gravidez positivo.
Nessa altura, já trabalhava, era profissionalmente estável, e embora não nutrisse qualquer sentimento, nem tivesse nada que a ligasse ao progenitor do ser que crescia dentro de si, decidiu ir em frente com a gravidez.
Falando agora na primeira pessoa.
Nunca fui contra quem opta pelo aborto.Conheço várias mulheres que o fizeram, tive perto de algumas amigas na sua dor, enquanto passavam por isso, vi o que sofreram e custou-me muito.
Senti sempre que um aborto era uma decisão pessoal que ninguem devia tomar pela mulher.
Mas pessoalmente, considerava que ao fazê-lo perderia sempre. Corria sempre o risco de me arrepender. E não abortando, nunca me arrependeria, porque viessem as dificuldades que viessem, o filho seria sempre meu, sangue do meu sangue.Meu filho, parte de mim.
Então, confesso que nunca me passou pela cabeça , nem equacionei , apesar da situação e das várias pressões que tive por parte de amigos e familiares abortar, tirar um filho que já me pertencia.
Os meus unicos apoiantes, embora muito transtornados foram os meus avós.
tive uma gravidez de risco, comecei com contrações aos 5 meses de gravidez, mas tudo correu dentro do normal.
Criei-o sozinha. 
Quando o Henrique tinha 5 anos conheci um homem com quem casei.
Cerca de um ano depois engravidei, sem que isso tivesse nos nossos planos.
Mais uma vez , e infelizmente, fui confrontada com a pressão para que abortasse. O meu marido tinha já dois filhos adultos, não se sentia confortavel para mais um filho.
Foi uma gravidez em que tudo parecia correr mal.
A analise das 13 semanas acusava no sangue grandes indicios da criança nascer com sindrome de down.
Tive que fazer por isso uma amnioscentese, o exame que nos recolhem da barriga uma amostra de liquido amniotico que fará o diagnóstico se realmente a criança tem ou não problemas , estudando o seu adn etc. A agulha não é muito agradavel, nem o tempo que temos que estar em repouso depois do exame. Agravante: nunca cheguei a ser chamada para fazer o exame pelo serviço publico, tive que pagar a uma clinica particular 700 euros .
Esperei cerca de 15 dias a ligar quase diáriamente para um laboratório do Porto depois da primeira semana a saber se já sabiam se estava tudo bem.
Finalmente tenho os resultados,estava tudo bem e vou ter um menino.
Eu que queria uma menina, chorei de alegria. Estava tudo bem !!!
Ás 17 semanas, começo a ser seguida na maternidade alfredo da costa. Umas analises irregulares no meu sangue acusam novo problema.
A Dra Fátima Serrano, a melhor médica que conheci na vida começa a seguir-me.
manda-me fazer uma eco com o medico mais antipatico de todos os tempos mas tambem provavelmente o mais eficiente.
Diz-me esse médico que o bébé parou de crescer. 
O pânico toma conta de mim. 
A médica quer-me internar. No entanto, dá-me até às 21 semanas ordens para repouso absoluto em casa.
O crescimento do bebe é quase nulo. Percentil muito baixo para a idade de gestação quase às 21 semanas.
Começo a tomar aspirina diariamente,mais analises.
Mandam entrar o meu marido e dão-lhe uma descasca. "A sua mulher só pode levantar-se da cama para ir ao wc!"
Passado mais um mês voltamos ao hospital.
Fico internada.
Fiquei internada praticamente até às 36 semanas de gravidez.
Posso dizer-vos que chorei muito, recusei visitas de amigos, amigas, senti-me depressiva, cada vez que fazia ecografias saía da sala arrasada, os médicos eram fantasticos, nunca me deram certezas de nada, porque já viram de tudo
Quase não sentia o meu bébé,
A Maternidade Alfredo da Costa, ao contrario da maior parte dos Hospitais que conhecemos, em que temos que fazer extra drama para nos darem atençao, pelo menos no internamento, basta dizermos baixinho "doi-me a cabeça" j+a estamos a ser picados e alguem a colher-nos sangue para análise.
Se eu pudesse qualificar a qualidade dos serviços desta unidade de Saude, de 1 a 100, 100 seria pouco.
A nivel de assistencia, de eficiencia, de pessoal, de carinho, de atenção.
Palavras amigas...de toda a parte havia sempre um consolo.
Sem falar nas amizades para a vida que fiz.
A minha tensão estava muito alta, o parto teve que ser induzido, sob o perigo de eu sofrer uma trombose e não resistir.
Hipertensão causada pela Gravidez.
Hoje não tenho hipertensao nenhuma.
29 horas!!! Já o henrique foi a mesma coisa!
Teve que ser reanimado.
Nasceu um principe lindo, muito pequenino e muito magrinho. Com uma bolinha no  nariz, como eu lhe costumo contar. 
No inicio da manhºa, quando a enfermeira começa a fazer a higiene aos bebes, eu que tinha passado a noite em claro, porque uma cabo verdiana pariu nesse mesmo dia e decidiu passar a noite a cantar "OILELELELE".
notei que o meu filho tinha tremores compassados. Decidi contar à enfermeira que lhe fez um teste de glicemia.
Estava a 28.
Muito rapidamente, transferiram-no para outra ala do hospital e eu sempre atras sem perceber nada, Tinha acabado de ter o meu filho ha poucas horas e acreditem ou não acho que nem dores sentia de medo do que estava a acontecer.
Foi me explicado então que devido a prematuridade do Santiago o pancreas dele ainda não produzia insulina.
Que teria de ir para as incubadoras, durante o tempo que fosse necessário até que o organismo começasse a ser autosuficiente.
Passei 3 noites e tres dias ao pé daquela incubadora. So ia ao quarto tomar banho. Quase tinham que me expulsar .
Via crianças ao lado, algumas de Viana do castelo, do Algarve, sem os pais. Outras de Lisboa e diziam me que os pais visitavam-nas quando podiam, que os bebes ja la estavam ha meses.
Jurei não arredar pé enquanto o Santiago não saisse dali.
O hospital ainda me deixou ficar uns dias a mais para alem da minha alta.
Ao terceiro dia, ictericia.Nao bastava estar cheio de cateteres e ainda com os oculos de sol e os UV.
Eu só via tubos. E o meu bebe tao pequenino, tão magrinho...
menos de dois kgs...
Bem sei que ara um prematuro é optimo, mas eu estava habituada ao henrique que nasceu com 3300!
Fui chamada pela médica que me disse que eu teria de deixar o hospital, e que para mim nao era saudavel estar quase 24 horas por dia em ambiente hospitalar. Que fosse para casa, ia fazer-me bem.
Saí do hospital. E fiz o check in no hotel Zenith, em frente à Maternidade. Ir para Torres sem o meu filho jamais!
Passaram dez dias. Todos os dias eu queria saber a quanto estava a glicémia do menino,, Ficava  lá todo o dia. Até as 22 horas. 
Vi-o ser sempre super bem tratado. Vi crianças de tudo o que era hospitais e clinicas privadas serem levadas para ali, por ser das melhores unidades para prematuros.
Fizeram-lhe exames ao cerebro, pulmões. Tudo.
Foi sem duvida das alturas em que mais medo tive na minha vida. Medo de perder algo que era tão meu.




O amor pelos nossos filhos é eterno.
Se eu , pelo meu filho que foi um pequeno prematuro sofri imenso. Imaginem o tamanho do sofrimento dos pais da Margarida?
Pensem nisso.
Apoiem-nos.
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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

11 comentários

  1. Eu ainda não sou mãe (mas quero tanto ser, equipa de basket =D) mas imagino o que uma pessoa sofre de ver um ser que é nosso, gerado por nós, tão frágil assim... Os únicos nascimentos que estive presente foi os dois filhotes da minha madrinha, nenhum dos dois correu bem, mas lá se recuperaram.. E via o sofrimento na cara dela e nós familiares sentido-nos inúteis...

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  2. Fizeste me chorar :( nunca imaginei que tinhas sofrido tanto com os nascimentos de teus filhos neste caso com o Santiago, nao imagino a tua dor nessa altura. sempre disse que eras forte, agora tenho a certeza que nao pensei errado, seras um exemplo para muitas mulheres. <3 ainda bem que tudo acabou bem e tens dois meninos lindos e com saude. nao consigo dizer mais nada ainda me caem as lagrimas pelos olhos.

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    1. as coisas tristes so nos fazem mais fortes:)obrigada por estares desse lado.

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    2. nao tens que agradecer <3 estarei sempre aqui ate nao poder mais <3

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  3. Que lindo Marta :) Adorei este texto!bebi-o! Como sabes eu não sou mãe e o mais certo é que nãp venha a ser...ao contrário de ti sou muito mais planeadora (o que é uma pena!) <3

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  4. Fizeste-me relembrar o q passei c o meu filhote...prematuro de 34 semanas, mas os médicos não se acreditavam q tivesse tantas semanas de gestação, não pelo tamanho ou peso, mas pelo não desenvolvimento dos pulmões :( Mal nasceu tiraram-mo pq não respirava por ele, esteve ligado às máquinas alguns dias...entrou em apneia no meu colo por 2 vezes (mta aflição, medo) Esteve nas luzinhas (icterícia) por 2 vezes...não mamava nem respirava por ele...17 dias de tormento q lá passou e eu só podia estar lá durante o dia (regras do hospital) Resumindo: o meu pequeno, eu e o meu marido, sofremos mt, mas graças a Deus está um rapaz mt querido e já c 8 anos :)

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  5. beijinhos grandes para o Santiago e para o Henrique, desta vez a mamã guerreira fica de fora <3

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  6. Percebo o teu sofrimento porque a minha filha foi considerada uma grande prematura de 31 semanas - embora ainda assim, não tão grande como a Gui. De facto contando que 37 semanas já é considerado fim de gestação, 36 semanas não seria assim tão mau, não fosse o facto de haver complicações no desenvolvimento do teu bebé. Mas sei o que sentes, a incerteza de cada dia, cada vitória que temos, cada percalço que nos deixa cheia de medo... a espécie de "síndrome de estocolmo" que ficamos com o hospital, porque foram tempos difíceis, mas bons ao mesmo tempo porque fomos tão bem tratados e porque apesar dos medos cada vitória era uma alegria sem comparação...

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  7. oh Marta chorei :( Graças a Deus que o teu filhote está contigo, é muito duro, sou mãe e rezei todos os dias para ela ficar aqui na barriga até ao fim do tempo.

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