Fecha os olhos...

Desta vez deixo o Porto sem lágrimas.
É verdade, sempre que o deixava levava a alma inquieta, a sensação de abandono uterino, se é que é possivel.
Estive cerca de um dia na cama a sentir-me doente a  preparar-me para o deixar. O Porto.
Pode parecer incrivel, num mundo onde existe apego por gatos, cães, poucos entenderem que eu me tenha apegado desta forma a uma cidade que sequer me viu nascer.
Aqui não tenho Amor nenhum que me leve a querer ficar. Nem estão aqui os meus filhos. E são os meus filhos, avós e a sobriedade que me resta que me recordam que este Amor por esta cidade, terá de sobreviver à distância.
Não forço por parecer madura ou eloquente, deprime-me a constância e a rotina. Nunca o soube ser e não sigo quem o é .
Como quase todos os humanos, aguardo que a vida me surpreenda enquanto lido com cada   nova batalha. 
Sou péssima a esconder emoções. E não me envergonho.
Gosto de sentimentos. Anseio por eles. Gosto com facilidade.  O Amor une e torna-nos mais fortes. E não me refiro ao Amor carnal.

E tu, que não escreves, nem descreves emoções, aprenderás um dia, se não o sabes já, que a vida é só isto.
O que se sente. O que te faz sentir. Aquilo que és sempre que fechas os olhos.
E de olhos fechados, não há exteriores, só paz, ou medo, ou alegria, amor, ou solidão.
Vás para onde fores, és o que sentes de olhos fechados. Digam o que disserem de ti. Faças o que fizeres aos outros.
És raiva? Ódio? Inquietação?
Levo a Paz do Porto comigo. Tentarei senti-la onde estiver. Fecharei os olhos e vou rodear-me das emoções que sinto quando estou perto do Douro. Assim como quando estou longe de casa me agarro à almofada e finjo ser o filhote Santiago.
Nunca podemos ter o copo todo cheio.
Aprendamos então a viver com aquilo com que a vida e as nossas lutas nos dão.