Os verdadeiros Heróis

Sabes o que me dá medo? Não ter tempo de fazer tudo aquilo que quero na vida.
Em parte entendo Saramago, talvez a ausência de virgulas na sua escrita fosse uma forma de viver. Pontuar para quê, quando a escrita era a sua paixão e não havia tempo a perder? Mostrou intensidade, da forma que cada um conseguiu interpretar. Nunca se preocupou muito com a opinião dos outros. Quando se sentiu mal no seu próprio país , mudou , encontrou o Amor, disse tudo o que lhe apetecia, provavelmente deixando por dizer o que apenas daria protagonismo a quem não o merecia . Como me disseram uma vez, os medianos respondem mal, os inteligentes à altura e os génios ignoram.
Só considero a vida bem vivida se for sem pontuação. É a minha maneira de a viver. A unica que conheço. Cabem em mim muitos sentimentos e emoções e basta um a menos para que o dia se torne cinzento.
Não me deixo perturbar mais, como já fiz antes por "coisinhas". Tenho um filtro cada vez mais espesso e a triagem para certos campos está encerrada há já algum tempo. Não é a matéria que me incomoda nem o que cada um faz das suas vidas.
Estou centrada cada vez mais no meu circulo pessoal, no meu trabalho , desafios propostos, pessoas que amo e é aí que não faço cedencias. Não dou o meu melhor, dou tudo o que um ser humano é capaz de dar. Não me afecta a falta de visão dos demais para o compreender nem o facto de não saberem lidar com a minha frontalidade nem sempre doce. Dizem que sou algo egocentrica. É possivel. Ao mesmo tempo equilibro o meu egocentrismo parcial com  toda a ajuda a quem consigo dar. Nào porque seja uma iluminada celestial, mas porque valorizo e compenso principios e disponibilidade.
O que me trava é depois de tudo isto, num contexto mais leve , deparar-me com pessoas que não conseguem ou não têm coragem de viver. Que adiam a felicidade, dizem-se corajosos mas não dão um passo na sua direção e, que nunca arriscam, ou pior, induzem em erro.
Bem aventurados os amigos, que te carregam em dias de fraqueza e te "lambem" as lágrimas. Que te abraçam e dão colo. Te apertam a mão e te beijam protegendo-te assim de todos os males do Mundo. Esses sim, os grandes e verdadeiros herois da minha vida, os que guardam as suas dores no bolso para tentar sarar as minhas, e me fazem perceber que há muito pouco que uma amizade assim não resolva.
É isto. São raros, estes os verdadeiros anjos, na maior parte das vezes vivem infernos, fica em mim a vontade de os salvar. E o medo de me aproximar demasiado. E no entanto a vontade de me aninhar de novo. Poderão os nossos Mundos colidir?