Abandonada- por Andreia Mota



Sempre fugi desta palavra. Sempre fugi do estigma. Na verdade, desde muito cedo que deixou de afectar-me. Mas depois há dias, como o de hoje, em que o mundo parece ser inundado por fotografias de crianças e eu lembro-me de que não tive tempo de ser assim. Saltei uma etapa. Nunca me faltou amor, mas foi um amor diferente.
Este nunca foi um tema de conversa, como é lógico, por isso não sei precisar a data, talvez tivesse dois ou três anos quando os meus pais me abandonaram. Primeiro ele e depois ela. Ainda bem que era pequena o suficiente para não me lembrar dos contornos da história, que é afinal a minha história.
Não havendo parentes próximos com a possibilidade de nos acolher - a mim e aos meus irmãos - crescemos separados. As meninas foram institucionalizadas e o rapaz ficou com a minha avó até à minha mãe o vir buscar. Perdemos o contacto com ele.
Os anos foram passando e o tempo foi apagando o quanto me custava a realidade. Se isso me fez melhor ou pior? Não sei. Tornou-me diferente, apenas. Talvez mais lutadora, talvez mais fria, talvez menos vulnerável.
Não tive as figuras familiares, mas ganhei amigas para a vida, outras irmãs de coração que sei que irão acompanhar-me sempre. Não, amor nunca me faltou.
Desde nova, embora não soubesse de onde vinha, aprendi a saber exactamente para onde ia e, sobretudo, quem queria ser. Nunca iria permitir que acontecesse aos meus filhos aquilo por que tinha passado.
Hoje sou mãe e sei que consegui atingir já alguns objectivos a que me propus pessoal e profissionalmente. Mas, acima de tudo, tenho orgulho no meu percurso, no testemunho que lhes vou deixar.
Pode parecer uma frase feita, mas eles têm um estatuto que não é equiparável a qualquer outro. E embora gostasse de lhes proporcionar tudo o que de bom o mundo tem para oferecer, procuro educá-los segundo os princípios que também recebi: dar valor a pequenas coisas, ao próximo e ao conhecimento.
Porque, no fundo, tempo, atenção e mimo são o que de melhor podemos dar-lhes. Ser mãe, no verdadeiro significado da palavra, é o melhor legado que posso e quero transmitir-lhes.
Por isso, e embora hoje seja um dia especial para os miúdos (e mais graúdos), todos deviam ter o direito de ser criança. Todos os dias.



por 

Andreia Mota

jornalista e colaboradora do blogue


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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

1 comentários

  1. Todas as criancas deveriam ter o amor ke lhes pertence... pois ha mtas ke nao teem e sofrem kom isso...
    Gostei do post kerida

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