Escolher Morrer?

Este não é um tema leve.
Penso que é algo que tem que partir da vontade própria de quem se recusa a sofrer, após informação detalhada do prognóstico que lhe foi dado . 
Num país onde existem cuidados Paliativos, penso que seria "preferível" optar por esse caminho.
Eu vi o meu pai gemer e chorar de dores durante 7 anos. A pele rasgava-se, tinha os dedos das mãos e dos pés em estado necrosado. O rosto desfigurado, perdeu o cabelo e metade do seu peso normal.
Enquanto que eu, criança, na minha ingenuidade pedia que ele tivesse descanso daquele tormento, ele chorava que queria viver,saltitando de hospital em hospital, sempre internado. Planeava ir às compras em Outubro. 
Perdeu a vida no dia 1 de Junho de 1992.
Faz hoje precisamente 26 anos. 
Penso que a eutanásia não pode de forma alguma ser decidida em referendo, ou em sede parlamentar. Vamos deixar uma decisão desse calibre na mão de uma população que na sua maioria não faz a mínima ideia das suas repercussões ?
Vamos pôr essa decisão nas mãos de governantes que não conseguem ser minimamente responsáveis por um país em tantas outras áreas menos sensíveis ?
Eu concordo que, em caso de doença degenerativa ou crónica grave, o doente possa opinar, sobre a forma que pretende prolongar ou não a sua existência. Concordo que, em caso de morte cerebral se desliguem as máquinas, algo que já acontece. Que o doente em plena consciência do que o espera, decida o que fazer. 
Não concordo, de forma alguma que alguém se oponha à minha ideia de não sofrer. 
Os cuidados Paliativos seriam uma resposta aceitável . Mas, creio que  de alguma forma o uso contínuo de morfina  acabe por acelerar o processo da morte. 
É óbvio, que o receio de todos é que seja iniciada uma série de processos (suicidas, ou homicidas) com perdão e a desculpa de ser uma eutanásia  .
Temos os hospitais cheios de idosos. Chamam, gritam com dor, pedem por ajuda. E temos um Sistema Nacional de Saúde que já foi muito bom. Antes dos cortes orçamentais, antes do envelhecimento cada vez mais acentuado da população . Quantos não morrem de forma negligente, nos corredores dos hospitais, quando supostamente deveriam estar em S.O.?
Eu espero sinceramente não chegar à terceira idade. Assusta-me a forma que a sociedade trata dos nossos idosos, e eu, que fui criada pelos meus avós fico extremamente constrangida e triste com a forma como a vida nos é ingrata, quando já se deu tanto por ela. 


A eutanásia não pode ser algo tratado de forma geral, mas caso a caso. Não podem haver distinções de classes neste tipo de situação.
Defendo sim, que a ser aprovada, seja apenas praticada em Hospitais Centrais . 
Que exista em cada hospital uma equipa especializada, desde médicos especialistas na doença que o paciente padece, a uma equipa de psicólogos e psiquiatras qualificados para este tipo de situação. 
Infelizmente, Portugal quer ser pioneiro na eutanásia  quando, mais uma vez volto a bater na mesma tecla, deveria aumentar as unidades de Cuidados Paliativos acessíveis a todos que deles precisassem. 
Deveria investir mais na Investigação, ciência. 
Não é um tema que me agrade, este. 
Assusta - me deixar na mão do povo este tipo de assunto com contornos tão específicos e variáveis . 
Eu não me sinto apta a opinar de forma totalmente esclarecida sobre este assunto. 
Dou a minha opinião de leiga. 
Mas, sei que se tivesse que passar pelo que o meu pai passou, não pediria para viver, e sim pelo final do sofrimento. 
Sou ateia. Não tenho qualquer tipo de expetativa de ir para o céu e reencontrar os meus entes queridos. Mas existem dores e sofrimento que apenas quem passa por elas deveria poder opinar sobre si mesmo . 
Portanto, concordo com a eutanásia, não concordo que seja o povo a decidir esse tipo de assunto.

Fiquei incrivelmente  chocada com a opinião de um jornalista que dizia que este tipo de procedimento não deveria ser feito em Insituições públicas porque os contribuintes não têm que pagar estas "extravagâncias".
Acredito que seja algo que, a ser bem feito se torne dispendioso, mas nós que contribuímos para tanto luxo na classe diplomática com os nossos impostos, não podemos ter o altruísmo de aceitar que, tal como somos nós a pagar mudanças de sexo, abortos consecutivos por parte de quem os faz quase como se se tratasse de um método contraceptivo, anuir a morte digna de quem sofre de doenças terminais, se essa for a sua vontade? 



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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

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