O Bochechas de Chelas, perdão, de Marvila!



O Bochechas era um ginjão, nome adequado àquela zona citadina. Estrabiscava tudo o que era moçoila libertina com os fagotes escancarados.
Amor? Está quieto ó rola!
Todas as sextas ia para a disco de Chelas, perdão, de Marvila!
Por lá todos sapos eram príncipes e todas as princesas eram sapas. Levava sempre o seu barrete para tapar as entradas que o tempo lhe trouxe. Bochechas era inteligente, ou achava ele.
Três passinhos de dança, quatro abanadelas de anca, sete copos pagos, um beijo de língua e, pumba! Cai na rede mais uma sereia. Ou baleia? Tanto faz, o Bochechas vive do alimento que o seu ego recebe.
Certo dia, numa dessas danças “a ver se cais e se te papo”, com três moçoilas louqueiradas, põe os olhos na quarta: a Xaninha Branquelas! Bochechas esquece logo as outras. Tinha uma paixoneta pela Xaninha!
É hoje! Pensa ele... Entrou missão de pesca furtiva.
Xaninha Branquelas veio sozinha porque o seu Emanuel Tony tinha-a deixado mais uma vez sozinha. As invenções habituais, mãezinha doente. Tudo bagatelas. Basta, tinha pensado ela. Hoje ia até à disco de Chelas, perdão, de Marvila!
Bochechas acerca-se dela, dá três abanadelas de ancas, duas braçadas incisivas e puxa-a para a pista. Ela deixou-se ir. Afinal, pensou ela, se era para abardalhar mais que valia que fosse estrondoso. O Bochechas era o parceiro ideal para atingir Emanuel Tony.
Dançaram e ancaram toda a noite. 
Já se levantava o sol quando foram dar um passeio pelo parque de Chelas, perdão, de Marvila!
Bochechas, encorajado, resolve falar.
- Xaninha, gostaria muito que os teus ouvidos ouvissem que o meu coração bate forte por ti cá dentro. Se me pudesses dar uma chance, eu gostaria muito de ser o testo da tua panela. Ou então, a tampa do teu tupperware. Que achas?
- Bochechas, és um gajo mesmo muito inteligente. Sabes mesmo do que preciso. Ainda ontem a minha mãe me disse: “Xaninha homem que é homem vai-te conquistar pela cozinha. O teu pai, que Deus levou, foi assim que me amou a vida toda. Uma colher de pau usada dia sim dia não, bolachas na hora H e bifes frescos para o olho negro.”
Xaninha Branquelas finalmente acertara com o Bochechas de Chelas, perdão, de Marvila!




Gabriela de Freitas

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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

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