Após mais de uma década com uma tatuagem que realmente me incomodava , decidi ir cobri-la com outra tatuagem e o resultado não podia ter sido mais satisfatório. Tem que ficar aqui registado. Que fique também registado que quero mais!
Por mais séries e documentários americanos que veja, não há absolutamente nada que bata a intensidade das series turcas. Os atores são muito convincentes, há uma mistura de culturas da Ocidental para a árabe , tendo em conta que mais de 90% dos turcos sao muçulmanos. Aprendemos muito sobre costumes dos mais obsoletos, aos intemporais, das famílias mais tradicionais às mais nodernas.
Existe apenas algo que é comum . O pudor , mais depressa apanham um padre numa série turca que um beijo na boca entre atores . Às vezes faz falta, para compor a coisa mas , não é o mais importante.
Podes assistir no Youtube, bastando que coloques o nome da série em turco e escrevas " legendado" , a menos que sejas fluente em turco.
Vou então dar-vos o nome de algumas séries que não devem perder. Aviso que a Netflix tem tem o " Kara Para Ask" , um romance policial e o "Interception ".
Kirmizi Oda - O Quarto Vermelho- uma série passada no quarto vermelho do gabinete da psiquiatra, que pacientemente ouve os mais diferentes casos e perturbações e procura com o paciente entender o que provoca cada um e como curar.
Camdeki Kiz - A rapariga na Janela - Nalan, uma jovem bonita, rica, oprimida e maltratada pela mãe casa-se com um herdeiro burro, rico e mulherengo. E é sempre a piorar...
Benim Adim Fahrah - O segredo de Fahrah. Fahrah , de uma família pobre que vive na cave de um prédio, onde os pais são porteiros consegue entrar na universidade e, sentindo-se constantemente humilhada, decide passar-se por rica.
O kiz. Rapariga - Zeinepp é filha de um homem de 50 anos com um atraso cognitivo provocado na altura do seu nascimento, então, comporta-se como se tivesse quatro anos, mas é um homem incrivelmente bom, puro e ingênuo. Zeinepp entra no Mundo dos influencers onde é muito bem aceite mas , mostra apenas aquilo que é agradável ao grande público. Foi abandonada pela mãe quando nasceu, mãe essa que vai cruzar o seu caminho.
Se quiserem mais sugestões, digam!
Li esta pergunta perturbadora a primeira vez que me desloquei ao Centro Neurológico Senior aqui em Torres Vedras, uma unidade de saúde focada em doentes neurológicos .
Lá voltei alguns anos depois, desta vez com a minha mãe para receber um diagnóstico de demência e Alzheimer precoce, já que desde os 40 anos que foi mudando o comportamento, tendo episódios em que se repetia, esquecia que já tinha dito algo e a corrigimos como se fosse um lapso inofensivo.
Embora me tenha sentido sempre pouco amada pela minha mãe , a verdade é que chegamos a uma altura da vida que temos que aceitar que os nossos pais foram o melhor que sabiam e podiam para nós, independentemente que tenham sido diferentes para outros. Há que fazer um reset , perdoar, aceitar, tolerar que não vale a pena manter mágoas e dores antigas porque nada pode mudar o passado.
Foi talvez das coisas mais difíceis, quando soube que estava a iniciar um processo de demência, perceber que o pedido de desculpas nunca chegaria, que nunca viria a recuperar o Amor daquela mãe, que foi sempre a minha maior ânsia e desejo.
E foi difícil porque no dia em que nos deslocamos ao Centro Neurológico aconteceu pela primeira vez ela olhar para mim ,nos meus olhos e dizer-me a sorrir que não sabia quem eu era.
E custa saber que tudo se desenrola a uma velocidade luz, que as capacidades se perdem a cada dia. Que o que foi não voltará a ser.
E acima de tudo saber que esta dor de a ver deixar de saber quem é só terminará quando fechar os olhos para sempre.
Mais uma vez. O que fazer? Aceitar. Está a ser feito tudo para que não lhe falte nada. E eu tenho a certeza que isto acontece em famílias que infelizmente não conseguem proporcionar as melhores condições, o que não é o caso.
Mas o "sumo", o essencial, não muda.
É a degradação do ser humano.
Uma transmutação de ser autônomo e cognitivamente capaz para um ser dependente que não sabe que o é, confuso com tudo o que vê, violento, desorientado.
Porque sem memória somos livros com páginas arrancadas. Não temos história, perdemos a única coisa que reunimos durante a vida. As nossas recordações. Porque , ao fim ao cabo a vida é uma miscelânea de recordações. Sem isso ... nem a dignidade do básico sabemos. E quando acontece numa idade em que normalmente nem nos podemos reformar , sabemos que o universo cometeu um erro. E ninguém quer ser um erro do universo.
E um dia percebes que desde o dia do teu nascimento, mais que a ganhar, tens a perder. E não é ver o copo meio vazio, não é que a vida não nos permita criar memórias que nos sejam tatuadas na alma. É que o Amor, esse sentimento que parece vulgar é tão único e raro que quanto mais o tempo passa mais são as chances de começar a perder pessoas para o infinito e não há nada mais assustador que a finitude dos que amamos, já que amar é tão raro e incomum nos dias de hoje.
Vejo pessoas que se toleram, pessoas que se aturam, e é tão especial ver um relacionamento, seja ele da espécie que for que não seja desequilibrado.
É como se sempre, em todos os casos de afecto, carinho, amor, existisse quem ama mais. Quem venera e o venerado. O interesseiro e aquele que dá sem pedir nada em troca.
Talvez por saber que o Mundo é assim, tão oco e superficial, tenho me afastado aos poucos das pessoas. Para haver um núcleo duro, familiar, que eu priorize, já que venho de uma família em que primeiro se valorizavam os estranhos negligenciando os de casa .
A vida tira, tira, tira. E o mais incrível, é que muitas vezes tira para nos mostrar caminhos.
Já pensaram que se não tivessem passado por todos os caminhos difíceis que passaram dificilmente teriam tido experiências e ligações afetuosas que tanto vos enriqueceram? Ok. Teriam outras, mas, aquelas que tanto valorizam hoje, provavelmente não.
A vida é sobre o quanto se perde e o tanto que temos que agradecer de ter tido quem perder.
Porque o sofrimento é o castigo que temos a pagar por Amar.
Então, e por mais que custe, o sofrimento da perda, o luto, este vazio que fica, é porque um dia já houve quem o preenchesse.
Vai em paz querida São. Esperam-te os teus pais, o meu, e um dia destes, reencontramo-nos.
Era uma menina, igual a tantas outras, mas, por dentro sempre se sentiu diferente. Habituada a olhar para o espelho e a não se identificar com o que via, como se aquele não fosse o rosto que recordasse ter, como se cada vez que visse o seu reflexo desse um salto achando que era outra pessoa que a espiava. Enquanto pequena, a família dizia que era linda, e, para dizer a verdade, era uma criança normal, de olhos tristes e meigos. A verdadeira tristeza veio depois, quando já tomava o colo do pai por garantido e este deixou de existir. Quando começava a ver na mãe uma amiga e esta decidiu recomeçar a sua vida sem mim. Ficando a viver numa intermitência entre os avós maternos e paternos, que verdade seja dita, haviam sido escolhidos pelo Universo " a dedo".
Os "avós de Verão", os maternos, aturavam-me durante três meses seguidos, num lugar em que se juntavam pobres e mais pobres ainda, se alugavam terrenos para tendas de campismo, a avó cedia a arca para todos os " rendeiros"( como lhes chamava) e aqui e ali, avó e neta se divertiam com a presença constante daqueles que passavam o ano a sonhar com aquelas férias num pedacinho de terra que lhes arrendava a " ti Mari da Luz", a minha querida avó, que tanto me avisou que um dia , quando ela cá já não estivesse, eu a ia lembrar muitas vezes. Avó profeta , aquela.
Divertiamo-nos com uns que falavam mal dos outros , entrava um, saiam outros e a lengalenga era igual, só mudavam os nomes.
A avó fazia limpezas em casa das " meninas de Lisboa", umas senhoras na sua maioria solteironas, quase todas elas licenciadas, filhas de doutores , meninas essas que tinham idade para serem minhas avós e que recordo com tipo muito masculino, a fumar noite e dia. A minha mãe era afilhada de uma dessas doutoras , e levou o nome Margarida em homenagem à madrinha ( sorte a dela, há 64 anos os nomes comuns não eram tão generosos como o que lhe calhou).
Todos os anos , lá ia a mãe ao chamado da madrinha, buscar roupas que as doutoras já não queriam, afinal tinham uma vida desafogada, ou pelo menos mais privilegiada que a nossa, e mais valia partilhar que deitar fora. A caridadezinha fica sempre bem. Nunca souberam elas que éramos bem mais magras e jovens, já agora, e que nada nos caía bem.
Para além disso, os meus pais sempre trabalharam muito, o que não significava que tinham muito dinheiro, eram funcionários públicos portanto naquela altura, significava apenas que trabalhavam muito.
E foi aos meus 12/13 anos que, vendo a minha prima com mais um ano que eu trabalhar no verão, comecei também a trabalhar.
E que descoberta fantástica aquela de fazer algo que me divertia e me trazia o peso de responsabilidade e me possibilitava guardar dinheiro para as roupas de inverno e material escolar. Queria roupas de marca? Comprava com o dinheiro do meu trabalho. Mas tanto serviam as de marca quanto as da feira que tinha sempre coisas girissimas a cem ou duzentos escudos. Feira de Peniche anos 90. Não havia melhor .
Recordo o meu pai já muito doente ir visitar-me ao final do dia, com o sol já baixo, já que o Lúpus lhe dava uma condição de quase vampiro e o seu olhar entre o orgulhoso e o triste.
A vida era melhor antes? Era. Talvez por isso o meu pai tenha feito um esforço hercúleo para sobreviver a cada crise e poder viver mais e mais um bocadinho. O meu pai chorava compulsivamente enquanto dizia que não queria morrer. Mesmo que a pele lhe rasgasse. Mesmo que o cérebro , a depressão lhe causasse psicoses que o tornavam violento e agressivo. O meu pai, soube aos 29 anos que teria uma morte lenta e dolorosa. Que aos poucos deixaria de andar, que o cabelo lhe cairia, que os órgãos entrariam em falência, que a pele iria rasgar, escamar, necrosar. Aos 30 anos caminhava de bengala. Depois deixou de andar.
O meu pai nunca auspiciou grande futuro para mim. Ou talvez fosse a sua frustração a falar mais alto. Anos mais tarde o meu avô, pai do meu pai, sanou todas as feridas, sendo o pai dos pais, sendo o grande presente do universo para mim. Mostrando vezes sem conta e a cada conquista o orgulho que tinha em mim, na minha inteligência, na forma como as minhas palavras tocavam os demais e o faziam chorar de orgulho e amor, dizendo que tinha a certeza que um dia eu seria alguém.
Para o meu avô, um homem essencialmente honesto e cumpridor, a minha vida era eu quem escolhia. A única coisa que importava era a minha felicidade. Casada ou divorciada, rica ou pobre, a trabalhar num escritório ou a varrer ruas.
Para ele, enquanto os meus filhos fossem pequenos era importante que ficassem comigo. Não era ordem , era opinião. Acabei por cuidar dos meus filhos e dele a quem a Alzheimer pregou uma partida, bem cedo. Nem que ele tivesse 100 anos, seria sempre cedo.
Voltando atrás, aos 15 anos, precisamente dois dias após completar 15 anos soube da morte do meu pai, via telefone.
Eram oito da noite e tinha acabado de falecer. Eu estava sozinha em casa e embora achasse que já estava mais que habituada à ideia que ele não viveria muito mais, nunca ninguém está preparado para ouvir " acabou tudo. O teu pai morreu". Menos ainda aos 15 anos. No dia seguinte, eu e a mãe dirigimo-nos à agência funerária ( nunca tinha ido a uma) e foi-me pedido no interior de uma sala em que os caixões estavam dispostos em beliches que escolhesse um " caixão bonito" para o meu pai. O esforço do agente funerário pouco mais velho que eu e que anos depois se tornaria meu compadre, casando com uma das minhas melhores amigas parecia totalmente descabido. " Caixão bonito? Escolha você ". Fomos com ele a Lisboa buscar " o corpo". Durante a viagem era ensurdecedor o barulho do caixão que balançava na estrada antiga Torres Vedras - Lisboa. Confesso que não consegui retornar com o caixão com o meu pai lá dentro. Não sei quantificar a dor que tinha após ver na morgue o corpo do meu pai disposto dentro do caixão, e ter apertado cada pé, cada não, na esperança que gritasse, como fazia cada vez que algo lhe tocava em tais locais em vida. Mas o rosto dele não mudava. A voz dele não se pronunciou. Era o meu pai morto num caixão com os meus tios avós, os meus avós maternos e a minha mãe à volta a chorarem compulsivamente. E era eu que só tinha 15 anos acabados de fazer. E aquele era o meu pai. O colo , a brincadeira, as histórias .Os meus filhos não teriam avô paterno, eu não teria quem me levasse ao altar. Acabara o dia do pai.
Luís Augusto Lemos Ferreira. Nascido a 1 de Fevereiro de 1956, falecido a 1 de Junho de 1992.
Meu pai.
Parece que foi noutra vida. Tenho mais anos sem pai que com pai. 30 anos sem pai.
Não sou a única ,bem sei. O Mundo esta cheio de histórias de vida onde reina a doença e morte .
Há muita coisa sobre a minha vida que eu preciso escrever. Ainda não tive coragem. Por respeito à minha mãe que aos 64 e apesar de não ter sido muito presente se encontra demente, com aylzheimer.
E é aí, que percebo que apesar de me dar pouco, de ter optado por recomeçar uma vida longe de mim, fez por ela, acho otimo. Se eu faria o mesmo? Não. Mas não, talvez porque não faria a um filho o que me fez morrer de tristeza.
E então, é aqui que entendo que todas as falhas, que todas as ausências, que todas as injustiças que sofri fizeram de mim quem sou hoje.
Hoje, em conversa com o pai do Santiago, perguntava -me se seríamos nós que estávamos mal no Mundo. Não fazemos mal a ninguém. Não negamos ajuda a ninguém e ultimamente estamos a atravessar uma fase que honestamente? Não mereciamos. Lutar com doenças é uma luta injusta. Não sabemos o que nos espera , mas a amizade que nos une amortecerá toda e qualquer dor. Estamos juntos na educação dos meninos e no bem estar um do outro. Mesmo que separados.
Se eu pudesse escolher, entre ter nascido e não, terei de ser muito franca. Sinto que toda a minha vida cuidei de alguém. O meu cansaço é tal que se não misturar a minha paixão pela cosmética e pela comunicação, o amor pelos meus filhos, não estou cá a fazer muito POR MIM.
É que chega a um ponto que não são médicos, psicólogos e psiquiatras que por melhores que sejam te conseguem fazer sentir melhor.
Tomas Rivotril para fugir à dor, à ansiedade, ao pânico. Mas não estarás a fugir ao frente a frente com as tuas emoções e fracasso?
Os meus filhos. Foi isso que vim fazer a este mundo. Cuidar da minha avó de 93 anos . Do meu Luís Augusto ( marido). Aprender a compaixão com a minha mãe.
Sabem que é inacreditável. Sempre pensei que nada que acontecesse à minha mãe me pudesse fazer sofrer.
Como estava enganada.
E é simples.
A minha mãe não era a mãe de folhetim que faz tudo pela filha mais velha, que sofre, sacrifica , luta por ela. Não. Era a mãe do " desenrasca-te". Lembro-me aos 13 anos ter uma crise de asma que tive que andar agarrada as paredes até ao hospital ao que olhou para mim em casa e disse " estás mal? Vai ao hospital, não tenho nada com isso". Cruel, não? O meu filho de 19 vai-me debaixo do braço para o médico. Mas por mais que tenha custado, sofrido, ensinou-me que eu não seria assim.
Já não nutro nada de negativo por ela. Foi a mãe que pode ser. Foi a mãe que tive. Apesar disso, sinto tantas saudades da mãe que me aparecia em casa com chocolates para os meus filhos. De dançar com eles e fazer parvoices para os netos rirem. Da mãe que eu maquilhava para ir para as festas. Que eu pintava o cabelo. Que acompanhava ao Baleal para que tratasse o pai acamado.
Agora tenho uma mãe que não me conhece, que me é ríspida, que já não existe, que não passa de um envolucro de uma bala extinguida há muito.
Tenho sim, um padrasto incrível, que foi provavelmente o melhor que aconteceu na vida dela, por quem sempre foi completamente apaixonada, a quem eu admiro e sou grata .
A vida é uma merda amigos. Não vale a pena romantizar. Gostava muito de não achar isto. De passar para os meus filhos uma ideia diferente, e acreditem que os educo fazendo crer que podem ser quem quiserem. E acredito nisso. São muito mais inteligentes que eu era. Têm muito mais amor.
E se eu venci em alguma coisa na vida foi a dar todo o amor materno possível e imaginável.
Não os estraguei. Tornei-os seguros das suas capacidades, defendo-os de tudo e todos que os queiram magoar e vai ser assim até ao último dia da minha vida.
Vida essa dedicada aos homens da minha vida. Ao meu Gastão, aos meus Luises, Santiago e Henrique.
Se não te identificas com nada disto, não faz mal. Temos todos vidas diferentes.
SÃO 5 DA MANHÃ E AINDA NÃO DORMI
Tropecei, sem querer, numa notícia de 25 de Novembro sobre a última polémica da marca espanhola BALENCIAGA.
Dizer que fiquei chocada é pouco. .
Nos últimos anos , a BALENCIAGA tem sido notícia pelas suas malas caríssimas idênticas a sacos de lixo pretos. Pelos seus ténis destruídos que fizeram sucesso entre as celebridades. E por mim tudo bem. Chamem arte aquilo que bem lhes apetecer. Ou não.
E quanto a isto existe controvérsia, porque há sempre quem entenda que a arte não pode ter limites . Na minha opinião, desta vez a BALENCIAGA foi longe demais.
Usou crianças para a promoção de suas novas malas em peluche que vêem com adereços sado-masoquistas. Na mesma campanha estava uma trela, em cima da cama, e decerto não era para o cão, já que não existia nenhum.
Vê -se também, a adornar uma mala da marca, por baixo, documentos de acusação num processo de abuso de menores, e um livro de um senhor que dizem ser artista, cujas obras tendencialmente contém crianças, sem roupa.
Perante a indignação e as opiniões à volta do Mundo, em especial por parte de celebridades, a marca retirou tudo do site e veio pedir desculpas.
Desculpas não aceites. Falamos de adultos. É preciso que exista quem mostre indignação para que uma marca com um posicionamento forte no mercado (e uma marca não é uma pessoa, pode esta campanha ter passado por dezenas de pessoas antes de vir a público, e ninguém, absolutamente NINGUÉM viu nada errado?) haja assim. Romantizar a pedófili@? Usar, objetificar crianças vulneráveis para serem a cara de uma campanha que usa práticas sado-masoquistas para vender os seus produtos? Por mim podiam usar até vibradores na campanha mas nunca, em hipótese alguma , crianças.
E os pais daquelas crianças? Sabiam decerto o teor das fotos . É o derradeiro "vale tudo".
Tento entender o ponto a que chegamos.
A insensibilidade. Mais que um pedido de desculpas a marca deveria ser obrigada a pagar uma quantia substancial para uma associação que proteja crianças vulneráveis. A dar parte dos seus lucros mensais a quem precisa.
É impensável que uma ideia destas tenha sequer passado do papel, de um esboço num computador, de uma reunião, para obter a aprovação de todos aqueles que tinha que ter para que saísse a público.
Se quando saíram as malas-lixo e os tênis rotos envelhecidos achei que a marca tinha perdido a noção do ridículo , começo a achar que vai para lá do ridículo. Não temos que ser moralistas mas as crianças , a violência, o abuso, não podem nem devem ser usados como teasers ou fetiches aceitáveis.
Adorei a série Dark , na Netflix.
Completamente original, fora da caixa, cerebral, conheço quem a tenha assistido com papel e caneta ao lado, de tantos os pormenores que desatam os nós da trama.
Agora, chegou 1899, uma série que se podia chamar "Torre de Babel Flutuante", sendo que se passa num navio que leva emigrantes europeus dos mais diversos países para Nova Iorque.
A base do enredo tem alguma verdade, uma vez que houve de facto um boom na emigração para os Estados Unidos nessa época e também é facto que nem todos os navios chegaram ao seu destino, tendo sido um mistério desde sempre.
Os criadores de Dark, decidiram então " explicar" por meio de universos paralelos , muito mistério, suspense, mortos a rodo, o que poderá ter acontecido .
Obviamente que numa versão bastante alternativa e de nos por os neurónios à porta do médico de família para pedir baixa, sendo que quando achamos que percebemos algo essa descoberta não é mais que um novo mistério.
Interessante? Sim. Tão bom quanto Dark? Nem por sombras. No entanto, conta com actores conhecidos , sendo que um deles é português e parabéns, não é sempre que colocam um português a fazer de português.
A ele, ao jovem José Pimentão, faço -lhe uma vénia, porque sabe ser irónico e muito " tuga" com as bocas que vai mandando ( e que mais ninguém percebe já que por ali se fala polaco, alemão, espanhol, inglês, mandarim, etc) e muito convincente nas cenas dramáticas.
Valeu por isso. Agora, aguardam-se mais temporadas. Logo agora que estava a começar a gostar...
Às vezes fico incomodada com a facilidade que tudo o que é mau é atribuído em termos de gozo aos bipolares. É má mãe? É bipolar. É invejosa? É bipolar. É cusca? É bipolar. É puta? É bipolar. É assassina? É bipolar.
Não! Bipolaridade não é uma psicopatia. É um transtorno. Uma perturbação. Se pode dar a impressão que somos loucos quando não somos medicados? Bem, se estivermos bêbados, tal como todo o comum mortal pode ser confundido mas bipolaridade é alguém que tem dois estados de humor. BI+POLAR. Um polo eufórico,consumista , compulsivo ou em caso de ser uma bipolaridade tipo II nem se dá por esta fase, denominada de mania, a fase em que o cérebro funciona muito mais depressa, somos mega criativos, conseguimos fazer mil coisas e quase não dormimos. E o outro polo, aquele em que nos sentimos tão mas tão tristes que queremos apenas MORRER.
O doente bipolar é o doente com maior probabilidade de cometer suicídio quando não medicado, porque o pólo negativo( por assim dizer) é insuportável.
Por isso, não digam disparates sem saber do que falam porque a avaliar pelo estado mental global serão diagnosticados cada vez mais bipolares e comentários destes são completamente ignorantes.
Já assumi publicamente que fui diagnosticada em 2018 com Transtorno Afetivo Bipolar tipo II. Ao contrário que possam pensar foi um alívio.
Só conhecendo o problema podemos equacionar uma solução e depressões recorrentes desde os meus 23 anos é sinónimo de muitos médicos especialistas.
E nunca me senti tão melhor como seria esperado, com a terapêutica.
Em 2017 falece o meu avô, e com ele foi toda a alegria. Em 2018 começam em vários momentos do meu dia, sempre que tinha uma contrariedade, uma vontade incrível de desaparecer para sempre. De querer desligar-me para não sentir mais sofrimento.
Essa vontade compulsiva, esses pensamentos obsessivos quando ao mínimo problema só vemos como solução a morte, são chamados de Ideiação suicida. E a ideiação suicida não mais é que um SINTOMA , um alerta e quando percebi isso, aprendi que não é uma vontade minha. Tento sempre " ver de fora" e assim tornou-se inacreditavelmente mais fácil de contornar a situação.
Desde o início com o estabilizador de humor, que sei que terei de tomar toda a vida, notei uma diferença tão grande que parecia que do dia para a noite tinha passado de criança para adulta.
Confesso que às vezes ainda me sinto triste, ansiosa, mesmo sem motivos novos, mas olhando para trás lamento muito não ter tido o diagnóstico mais cedo. Eu sofria horrores comigo. Não prejudicava os outros, fechava-me em mim, mas sofria de forma tão feroz e dolorosa que não conseguia ver razões para continuar.
O nosso cérebro tem a sua química, e nós somos seres marcados pelo nosso passado, e o nosso ADN são aspetos que quando em sintonia facilitam de forma orgânica perturbações do foro mental.
E se antes, éramos todos saudáveis e havia um ou outro " louco", agora, parece-me que os lúcidos são os que procuram ajuda e os
" loucos" os que se negam sofrer de qualquer patologia.
A verdade é que se tivermos em conta os últimos anos, é muito difícil encontrar alguém que não seja ansioso, ou que não sofra de insónia, stress.
E depois, existe um infinito número de doenças como o hipotiroidismo , a carência de algumas vitaminas que podem resultar numa depressão.
Não é vergonha tratar do " erro de Descartes"
( que achava que uma coisa era o corpo e outro a mente, o corpo inclui a mente, são intrínsecos e um depende do outro). Há que começar a admitir , nem que seja para connosco, que precisamos de ajuda.
E saber que vai correr tudo bem. Porque no fim, tudo acaba . E não vale a pena adiantar o processo.
Hei-de morrer agarrada às minhas dores de infância, às minhas perdas, porque, sofrer é o preço que se paga por amar. E no fim, ainda que para a morte, acabamos sempre por perder alguém.
Infelizmente aprendi cedo demais , não a lidar com a perda, acho que nunca tal aprenderei. Sou daquelas pessoas que prefere nem saber que alguém lá longe morreu porque honestamente, tenho tamanho trauma com a morte, que sofro por todas elas.
Em 2020, por exemplo, faleceram várias amigas da minha mãe, todas na casa dos 50, 60 anos , referências da minha infância, uma vez que durante os meus primeiros anos de vida, e devido ao facto de os meus pais terem sido pais muito jovens ( 19 e 21) ser a única criança " arrastada" ( e muito feliz por isso) para os encontros semanais nas ensolaradas esplanadas no centro de Torres Vedras.
Eram então pessoas minhas.
Os amigos e amigas dos meus pais.
E eu sentia aquela atenção, o afeto, o mimo, e era uma excitação imensa andar naqueles cavalos ou aviões ou motas em que se metia uma moeda e largava de impulso para a frente e para trás, numa chinfrineira infernal, geralmente em formato de música do Avô Cantigas ou da Suzy Paula. E um a um, iam-me dando moedas, para que andasse uma e outra vez, ou para que fosse buscar um ovinho na máquina que parecia ter sempre presentes maravilhosos mas calhava sempre algo completamente ao lado.
Como já devem ter percebido sou nostálgica e já me conformei com isso.
É uma característica, não é sinónimo de negativismo, é saudade pura.
Tive momentos muito felizes até aos meus seis anos. Incrivelmente felizes.
Bendita seja a minha memória que permitiu que a cada tempestade pudesse olhar para trás e perceber que o sol também existe.
Ainda me sinto aquela menina de quatro anos que detestava ir para o jardim de infância. Fiquei até aos 3 anos com a minha mãe em casa, fui criada pelos meus pais, avós e a minha tia , irmã do meu pai e talvez por me ter sentido tão amada até ao início da doença do meu pai, tenha sentido tanto o choque da realidade.
Da menina que ia para Lisboa de comboio com o pai, a quem a tia, professora primária levava aos passeios da escola, antes mesmo de andar na primária, que andava no ballet e se sentia uma princesa, que tinha um quarto recheado de brinquedos que aqui e ali me ofereciam, comprados na feira mensal ( que isto há 40 anos era o mais perto do luxo que existia para quem morava numa pequena vila( na altura) da província).
Por vezes acho que fui buscar aos meus pais a criatividade, a capacidade de sonhar.
Que apenas em muito novos tinham. O meu pai construiu-me uma casinha em madeira, enquanto que a minha mãe comprou mobílias em miniatura para que mobilasse aquela que foi a mais linda casa de bonecas que já existiu
( afinal foi feita pelo pai, decorada pela mãe).
Estava tão longe de imaginar as cambalhotas e perdas pelas quais passaria.
Foi como se me roubassem o chão.
Deixar de sentir a proteção por uma fatalidade que obrigou toda a gente a viver de forma diferente foi e ainda é uma perda irreparável na minha vida, e ainda não aprendi a viver com isso, apesar de décadas de terapia.
Quando o meu primeiro filho nasceu, há 19 anos, o meu avô, um senhor sábio, austero, sofreu uma " metamorfose" de carácter. De repente , e voluntariamente a razão da sua vida chamava-se Henrique, tendo-lhe dedicado a existência até ao dia em que deixou de respirar, há quase cinco anos.
Os cinco anos mais desoladores da minha vida.
Penso que temos sempre os nossos pilares. Alicerces. Aprender a viver com a ausência da figura mais próxima da vida não era novidade para mim, mas, talvez por ser agora mais madura, houvesse mais alma para escurecer.
Depois do meu amado avô morrer, tive mil arrependimentos.
Que não devíamos ter internado o avô num lar aqueles últimos meses.
Mesmo sabendo que lá ele teria cuidados médicos e de enfermagem que em casa nos era impossível dar.
Mesmo sabendo que vivia com a avó também muito velhinha, a minha jovem de 93 anos, rija que nem um pero, e que quando caía, de madrugada, lá vinha eu de casa, lá longe, não sei bem se a dormir, se acordada para levantar o avô que estava confuso, caído no chão e não se conseguia levantar.
Mesmo sabendo que tantas vezes quando ia buscar o mais velho à primária e o mais novo à creche, passava no lar para o trazer também, enquanto andava em centro de dia e ele me aguardava com inquietação e abria os braços e brindava com um abraço grato.
Às vezes, quase sempre , quando me lembro que não estava lá a dar-lhe a mão, a última vez que respirou, sinto uma culpa, uma tristeza de um tamanho que não consigo qualificar, como se fosse um peso que me afunda que carregarei para a vida, porque tenho a certeza que lhe teria sido mais fácil.
Ele tinha a mesma dependência de mim que eu tinha dele. Só que ele sabia ser dependente do meu amor, eu tive a enorme noção disso naquele dia em que tive a certeza que não voltaria a ver o seu olhar e sorriso.
Vivemos para dar aos nossos filhos o melhor , para os ajudar a ter uma vida honesta, honrada, feliz, fazemos sacrifícios pelos filhos , esquecendo tantas vezes que lá atrás, alguém fez o mesmo por nós. E quando esse alguém volta a ser dependente, não temos tempo. Não temos vida para isso.
Dediquei os últimos anos da minha vida aos meus filhos e aos meus avós. Não me arrependo por um segundo. Apesar de ser trabalhadora independente e de já ter visto melhores dias , não é possível a acumulação do estatuto de cuidador informal. Ou seja, tomo conta da minha avó, mas não tenho direito a uma compensação que teria se não fizesse descontos, independentemente de auferir ou não alguma coisa todos os meses . Portugal, o país que castiga quem faz descontos para a segurança social. Mais valia cessar atividade, cruzar as pernas , pedir RSI , estatuto de cuidador informal e o PSI, já que problemas de saúde crónicos não faltam. Mas não. O meu avô tinha orgulho de mim. Sempre me disse que tinha a certeza que ainda ia ser alguém.
E sou. Uma mulher que cuida dos seus.
No nosso país toda a gente se esquece que um dia seremos nós os esquecidos num lar. Se bem que o meu avô, o pouco tempo que o frequentou teve visitas praticamente diárias, mesmo sendo o lar em outra localidade. Decidimos confiar nos cuidados do lar onde o pai do Luís Santiago trabalha há mais de 30 anos, até porque o meu avô e ele tinham uma ligação de pai e filho e era a forma do avô se sentir sempre perto de alguém " dele".
A saudade é isto. É aquele aperto no peito que te faz fugir de uma série para o blogger para " desembuchar" o que asfixia.
Meu querido avô. Nem a morte nos separa. Nem a morte apaga o amor que nos une.
Sou uma privilegiada por ter-te, ainda que não te possa ver, na minha vida.
Hoje e sempre tua,
Ana.