Sempre que me proponho a escrever algo, faço-o sempre em "inconsciencia".
Começo sem saber o que vou dizer.
Tenho uma ideia.
A de hoje é fortissima.
Acordei com o cansaço próprio de quem tem passado dias complicados, por entre outros muito felizes, porém em aspetos diferentes da minha vida.
Aprendemos com a vida, e , para sobreviver a separar as àguas, para que haja equilibrio.
Vou buscar a alegria e realização que tenho aqui, e "tapar" os hiatos malvados que insistem nos padrões do costume, até que aprenda . ou ganhe força para os alterar.
Não tenho vergonha de dizer que após a adolescencia tive depressões muito graves, tive ajuda para sair delas, ou, provavelmente não estaria aqui.
Quando ouço ou leio que a depressão é um
capricho tenho a certeza da má formação e ignorância voluntária ou não, de quem profere tal asneira.
Ninguém é infeliz ou se priva da felicidade porque quer.
O ultimo estágio da depressão, que pouco recordo, foi a ausência de luz que tudo me parecia ter, a inutilidade que a minha presença na Terra parecia significar.
Uma amiga minha, psicologa, recordou-me há tempos que proferi na altura uma frase que jamais esqueceu: "Parece que no Mundo tudo se enquadra. O Sol, as casas, as pessoas. Menos eu. Eu não pertenço aqui. "
Foi complicado. Sinceramente, olho para trás e gabo a paciencia a todos os profissionais que aturaram as minhas birras, na quantidade de vezes que não abri a boca em consultas, ou que tinha conversas completamente despropositadas.
Bom, talvez nada seja "despropositado" num contexto depressivo.
Isto para vos dizer que, passado 6 meses a um ano para alem de começar a recuperar a minha vida com terapia, medicamentos (muitos!), voltei à normalidade e a entender alguns aspetos . Alguns. Outros tive que aprender a conviver com eles.
Passaram agora 18 anos e algumas recaídas. Leves. A ultima foi quando o meu filho mais novo nasceu. Depressão pós parto. Assustei-me. A tristeza invadia-me após uma gravidez passada quase na totalidade internada e um bebe prematuro. Revelou-se com crises de pânico frequentes. Depois, felizmente passou.
Mas, como escrevi no inicio, hoje o medo apertou. Senti que apesar do apoio que tenho, e felizmente tenho muito,por parte de amigos e amigas, não há nada que substitua um abraço fisico.
E vou ter que aprender a viver sem esse abraço.
Não quero saber dos comentários maldosos que dizem que estou carente, como se referissem a Lepra ou Ébola.
Sempre me assumi uma mulher de emoções. Não vou agora fingir que sou gelo, se bem que por vezes consigo ser fria.
Dias tristes todos temos.
Tenho falado com muitas mulheres, e assusta-me a quantidade que fala na solidão, na carência, no facto de se sentirem tristes e desanimadas com o futuro.
Na sua grande maioria são mulheres determinadas e decididas, que têm um instinto maternal enorme, acabam por relacionar-se com meninos em vez de homens e o preço é o insulto fácil por parte dos pares. Mulheres que apesar de serem muitas delas mãe e pai, independentes, levam com acusações de serem levianas e são tratadas como se se tratassem de quaisquer
putas sem valor.
Se fosse um pai solteiro todos fariam uma vénia e apreciariam a beleza do cenário.
Se for uma mulher solteira ou passar dos 35, é talvez uma coitada, provavelmente mais rodada que roleta russa.
Sinceramente... vamos mesmo continuar a ligar a este tipo de comentário e julgamento mesquinho?
Voltamos à mesma conversa. Porque aceitamos uma critica ou julgamento e não aceitamos um elogio?
Porque será para nós tão letal
ainda não ter descoberto o nosso propósito se é isso que nos torna infeliz?
Não é a vida uma caminhada constante?
Hoje falei com uma amiga que adoro.
Disse-me que está a preparar tudo para
partir. Tem um filho, mas não aguenta mais a pressão. É uma mulher bonita, razoavelmente bem sucedida. No entanto tem uma vida caseira, dedicando-se ao trabalho e ao educando. Obviamente que não a preenche. A familia que tinha perdeu-a da mesma forma.
Decidiu morrer. Trágico.
Eu sei, que muitas vós que me estão a ler pensam vezes demais na vida e na morte.
Vou contar-vos um
segredo.
Ainda que ninguem se mate, a morte é certa. Não percam tempo com planos mirabolantes sobre a vossa forma de suicidio, não vale a pena, a morte vem-vos buscar, quer queiram, ou não.
Um dia destes. Pode nem ser daqui a 40 ou 50 anos como pensam.
Também não é certo que vão ter todos a chorar nos vossos funerais.
Ah, e mais, as pessoas esquecem da vossa existencia com uma rapidez incrivel.
Se se querem matar para magoar alguem, é parvoice.
A maior do Mundo.
Posso parecer uma
cabra, desvalorizando as razões que levam ao suicidio.
Sei que existem alturas em que apenas queremos deixar de existir. Permanecer sem sentir.
Que a dor psicológica é tão grande que nada se compara.
Que já não conseguimos chorar
. Sei. Não se esquece.
Mas sei também, que tudo pode mudar. E que nós somos os maiores impulsionadores dessa mudança. Que perto de nós existe um
criador de sorrisos. Alguem que oferece luz.
Tenta sempre procurar esses raios de luz quando te sentires em desespero. Confessa-lhe que precisas de uma palavra amiga. Os
criadores de sorrisos, geralmente conhecem a dor, melhor que ninguem. Vivem com ela. Trabalham-na diáriamente, para que diminua. Trabalham as suas dores e as dos outros. Cada vez que diminuem as dores alheias, conseguem sorrir tambem, eles próprios.
Alcançam assim um abraço em forma de sorriso. Ganham o dia.
Se Deus quiser, vão haver muitos amanhãs, vais poder recomeçar muitas vezes.
Tenta mudar o que te faz mal. Se não o puderes fazer de imediato, pensa que nada te magoará eternamente com a mesma intensidade, porque tudo muda.
Pensa que neste Mundo imenso, tiveste a sorte e o privilégio de nascer pleno de emoções.
Tantas, tantas que não as sabes gerir. Escreve sobre elas!É uma excelente terapia. Vais aprender imenso sobre ti.Sabes bem que existem muitas pessoas que parecem alheias a emoções. Imunes. Se sofres, sentes, és sensivel. nasceste com a capacidade de Amar. Existe melhor coisa na vida que o Amor?
E isso quer dizer apenas uma coisa, que tens que aprender a amar-te. E que tens a oportunidade de desenvolver amor. Todo o tipo de Amor.
Até aquele com o qual sonhamos.
Sabes amiga, somos muitas no mesmo barco. Por vezes zangamo-nos porque a vida nos contraria, vezes demais. . Sei eu e sabes tu. Mas, nem em um momento isso nos dá o direito de interromper o ciclo da vida, ou privar os nossos filhos de ter pais.
Quem sabe a tua felicidade está ali à frente à espera?
Calça uns sapatos altos, pinta os lábios de vermelho, ouve uma musica animada.
Sabes que estou aqui.
Sempre por ti, sempre para ti.
E, prometo, ainda nos vamos rir de tudo isto, num casino, no Mónaco.
Prometo.