É o meu primeiro ano com blogue em que "celebro" o dia do teu aniversário. Confunde-me, ter passado tanto tempo, que já não me lembre de nenhum aniversário teu sem lágrimas, pois todos que recordo, já não estavas connosco. Talvez, nos ultimos anos de vida tivesses internado, e as razões do internamento fossem bastante mais graves que o facto de fazeres anos.Durante muito tempo, muitos anos, fiz a mim própria esta mesma pergunta," será que todas as vezes que recordar o meu pai vou chorar?". Sempre achei que não, que ao fim de 5, 10 anos, a dor passasse.Atenuasse. mas estamos em 22 anos após a tua morte. Farias 58? Terás 36 anos eternamente. A mesma idade que eu. E... os avós cá andam. A avó amanhã vai passar o dia agarrada à moldura com a tua foto, aquela que te tiraram quando tinhas um aninho. E a soluçar que Deus lhe roubou o seu tesouro. E eu vou tentar fingir que não estou com um aperto na garganta que quase não me deixa respirar.
Tenho muita pena de nos termos conhecido tão pouco. Durante talvez 8, 9 anos tiveste perto, saudável. Depois disso foi tudo muito cruel e doloroso para todos. Para a mana, que nunca te pode conhecer com saude. Para mim, que te viu, gigante, desabar, e levou me a questionar desde cedo as injustiças do destino. Lembro-me que voces tinham planos. Que de um dia para o outro uma doença malvada roubou. Não imagino o que sentiste quando te disseram logo de inicio que não havia nada a fazer. Terias 29 anos?Acho que o ódio que tenho desta cidade vem daí. Não me consigo esquecer da descriminação que fomos alvo. Porque estavas a morrer de Lupus. Pessoas burras não são exclusividade desta terra , mas que as que por aqui existem desempenham bem esse papel...enfim, até nisso o karma lhes deu um estalo na cara. Não serei hipocrita. Mereceram. Não me vingo. Espero. Mais prático e não suja as mãos.É curioso, avaliar agora, um pai da minha idade. Entendo certas atitudes tuas, que anteriormente me faziam vitimizar, e agora entendo como defesa, como grito de revolta. Apesar da falta que me fizeste estes anos todos, e teimosos como somos os dois, chego a pensar que não nos dariamos bem, o avô tem feito o papel de pai. E de avô dos teus netos.
Só entende a tristeza que sinto ao escrever estas ultimas palavras, quem tiver tido filhos apos o pai ter partido. É algo que não dá para explicar. Por mais que tudo tenha sempre solução, que possamos sempre dar um jeito, jamais os meus filhos poderão vir a brincar com o avô Luis, ou eu ver a cara de espanto ou orgulho do meu pai a olhar para os netos.E isso, isso...esmaga-me.
Obviamente que quando me perguntam, e as pessoas são cuidadosas a perguntar, o que recordo de ti pai, o que mais lembro, é dos teus gemidos de dor, e de dizer a chorar que queria viver. Não tenho infelizmente muitas imagens felizes. Bom, para dizer a verdade , há um ritual que repito com o meu filho mais novo, que curiosamente fazias comigo. Invento historias patetas de animais imaginarios e ele chora a rir, e todos os dias tenho que contar uma historia diferente. Tal como eu te obrigava a contar. Tirando que a personagem que satirizavas era a vizinha de baixo.Eu lá criei uma galinha que adormece em todo o lado e que o Santiago adora e a qual batizei de Galocha.
Olhando para tudo, não consigo ver um proposito na sua vida, nem na sua morte. Ninguem devia nascer para viver tão pouco nem para sofrer tanto. Passei a adolescencia agarrada ao facto de me faltarem os pais, de querer muito ter uma familia, por mais que gostasse dos meus avós.
Por tudo isto vivo para os meus filhos.Que não lhes faltem os alicerces. que tenham sempre a mãe presente que os ama muito.Que cresçam sem dores na alma, sem recordações de dores, sem lágrimas por chorar, sem memórias de terra a bater em madeira.Que me mandem para um lar se quiserem quando lhes infernizar a vida em velha. Mas que não lhes falte com o meu amor de mãe.
Há 58 anos atrás, em Lisboa, na Clinica de São Miguel, a Lady Mimi, preparava-se para dar à luz um menino, muito comprido e gorduchinho. Perfeitinho. Foi amor à primeira vista. Chamou-lhe Luis, a Mimi, tal como o seu pai.
Aconchegou o junto ao seu peito e jurou-lhe que estaria sempre com ele.
E esteve...
Luis Augusto Chaves Lemos Ferreira
1.02.1957- 1.06.1992
o pai
29.05.1977 a 1.06.1992
Tenho muita pena de nos termos conhecido tão pouco. Durante talvez 8, 9 anos tiveste perto, saudável. Depois disso foi tudo muito cruel e doloroso para todos. Para a mana, que nunca te pode conhecer com saude. Para mim, que te viu, gigante, desabar, e levou me a questionar desde cedo as injustiças do destino. Lembro-me que voces tinham planos. Que de um dia para o outro uma doença malvada roubou. Não imagino o que sentiste quando te disseram logo de inicio que não havia nada a fazer. Terias 29 anos?Acho que o ódio que tenho desta cidade vem daí. Não me consigo esquecer da descriminação que fomos alvo. Porque estavas a morrer de Lupus. Pessoas burras não são exclusividade desta terra , mas que as que por aqui existem desempenham bem esse papel...enfim, até nisso o karma lhes deu um estalo na cara. Não serei hipocrita. Mereceram. Não me vingo. Espero. Mais prático e não suja as mãos.É curioso, avaliar agora, um pai da minha idade. Entendo certas atitudes tuas, que anteriormente me faziam vitimizar, e agora entendo como defesa, como grito de revolta. Apesar da falta que me fizeste estes anos todos, e teimosos como somos os dois, chego a pensar que não nos dariamos bem, o avô tem feito o papel de pai. E de avô dos teus netos.
Só entende a tristeza que sinto ao escrever estas ultimas palavras, quem tiver tido filhos apos o pai ter partido. É algo que não dá para explicar. Por mais que tudo tenha sempre solução, que possamos sempre dar um jeito, jamais os meus filhos poderão vir a brincar com o avô Luis, ou eu ver a cara de espanto ou orgulho do meu pai a olhar para os netos.E isso, isso...esmaga-me.
Obviamente que quando me perguntam, e as pessoas são cuidadosas a perguntar, o que recordo de ti pai, o que mais lembro, é dos teus gemidos de dor, e de dizer a chorar que queria viver. Não tenho infelizmente muitas imagens felizes. Bom, para dizer a verdade , há um ritual que repito com o meu filho mais novo, que curiosamente fazias comigo. Invento historias patetas de animais imaginarios e ele chora a rir, e todos os dias tenho que contar uma historia diferente. Tal como eu te obrigava a contar. Tirando que a personagem que satirizavas era a vizinha de baixo.Eu lá criei uma galinha que adormece em todo o lado e que o Santiago adora e a qual batizei de Galocha.
Olhando para tudo, não consigo ver um proposito na sua vida, nem na sua morte. Ninguem devia nascer para viver tão pouco nem para sofrer tanto. Passei a adolescencia agarrada ao facto de me faltarem os pais, de querer muito ter uma familia, por mais que gostasse dos meus avós.
Por tudo isto vivo para os meus filhos.Que não lhes faltem os alicerces. que tenham sempre a mãe presente que os ama muito.Que cresçam sem dores na alma, sem recordações de dores, sem lágrimas por chorar, sem memórias de terra a bater em madeira.Que me mandem para um lar se quiserem quando lhes infernizar a vida em velha. Mas que não lhes falte com o meu amor de mãe.
Há 58 anos atrás, em Lisboa, na Clinica de São Miguel, a Lady Mimi, preparava-se para dar à luz um menino, muito comprido e gorduchinho. Perfeitinho. Foi amor à primeira vista. Chamou-lhe Luis, a Mimi, tal como o seu pai.
Aconchegou o junto ao seu peito e jurou-lhe que estaria sempre com ele.
E esteve...
Luis Augusto Chaves Lemos Ferreira
1.02.1957- 1.06.1992
o pai
29.05.1977 a 1.06.1992