Fui mãe pela primeira vez aos 25 anos. Mãe solteira, sozinha, mas com a família e amigas como claque e comissão de boas vindas ao pequeno Henrique ( que está quase a completar 16 anos).
Decidi que o ia amamentar. Comprei os soutiens especiais, os discos, acho que até a bomba de leite tinha.
Fui deixada no Hospital de Santa Maria por uma amiga, uma amiga irmã , que fez o caminho Torres Vedras- Lisboa numa ambulância comigo também ela grávida de uns 5 meses.
Os meus avós estavam fora, a minha mãe também, faltavam semanas para o parto, sabia lá que as águas iam rebentar antes!!
O parto foi assim para o assustador, há 16 anos os hospitais não eram muito amigos das mães nem dos bebés e algumas enfermeiras pareciam ter um prazer sádico nas dores das parturientes.
Amigas, parir dói! E a dor não atenua se nos chamarem piegas! O que atenuou mesmo foi a epidural, santa invenção que fez com que quase pedisse um café e um pastel de nata em plena sala de partos.
Passaram 24 horas e disseram- me que estava no período expulsivo. Tinha os passos todos do parto estudados e recordo- me de ter pensado que no máximo duraria uma hora. O tanas...
Quatro horas depois ali estava eu feita menino Jesus, nas palhinhas estendida, nas palhinhas deitada, em versão perna aberta e “faça força! Como se fosse fazer cócó!” É que nem cócó nem criança!
Lá apareceu um enfermeiro a ralhar com o povo todo, que devia ter ido para cesariana, mas que era tarde demais porque a minha bacia era assim e o bebé estava atravessado e forceps e ventosas e mãos e puseram- se em cima da minha barriga e punham mãos à cabeça que era impossível eu não sentir dores.
E eu a assistir a tudo aquilo sem dor nenhuma, mas um bocado enervada e honestamente? Fartinha! Tive mesmo para desistir ! Mas não podia, não é?
A criança lá nasceu, puseram- na ao meu colo e novo momento meio estranho. Olhos enoooormes a mirar- me. Muito roxo, coitadinho. Não o achei nada bonito. Até ver os outros bebés...
Coseram- me de uma ponta à outra, as dores do pós parto foram de bradar aos céus e, apesar de reparar que me estavam a administrar uma data de medicamentos nas veias fui feliz e contente experimentar o meu novo cargo de leiteira.
Estou a por o bebé à mama quando me aparece um grupo de médicos, pediatras, ginecologista etc a dizer que lamentavelmente não ia poder amamentar por causa da medicação que ia ter que fazer uma vez que tive um parto muito complicado.
Fiquei triste. Porque me preparei psicologicamente para andar com a cria ao peito. E não, não faço parte das mulheres que sempre romantizou essa situação. Mas como estava mentalizada, custou-me.
Mandei a família ir comprar biberons, visto que não tinha, esterilizador e tudo mais.
O Santiago também nasceu antes. Apressados os meus meninos.
24 horas depois da indução chega a anestesista para a epidural e a bolsa rebenta espontaneamente, aí sim, parto à antiga. Muito chorei eu. Mas, o apoio que senti na Maternidade Alfredo da Costa , por parte de enfermeiras e médicos foi simplesmente inacreditável. Acho que não são pessoas. São anjos.
Com pouco mais de 1 kg foi me arrancado do quarto para ir para os cuidados intermédios para a incubadora, para lhe porem o cateter com o soro glicosado uma vez que nasceu hipoglicémico e para lhe porem a sonda de alimentação. Era demasiado pequeno, não conseguia sugar. É dificil explicar por palavras o que é retirarem- nos o bebé de ao pé de nós. Foi sem dúvida das piores alturas da minha vida.
Foi- me perguntado se ia querer tirar leite.
Não pensei sequer. Disse que não. Tinha estado três meses internada na maternidade antes do nascimento dele. Nem todas as mulheres vêem a amamentação como algo maravilhoso. Para mim era algo que talvez experimentasse se tivesse um bebé sem qualquer problema. Se estivesse tudo bem. Mas não. Estava há meses a mais de 50km de casa. Fazia quilómetros diariamente entre o quarto que partilhava com várias mulheres e os seus filhos e os cuidados intermédios. Sentia- me cansadíssima, triste, cheia de medos.
Amamentar sim quando é algo que se deseja. Eu só queria que o meu filho saísse dali e viesse para o meu colo.
Ninguém me culpou ou julgou pela escolha que fiz. E isso foi muito importante para mim. Não é egoísmo pensarmos em nós após o nascimento de um filho. E se amamentar doer mais ou causar mais sofrimento que alegria ou benefício, então, não é obrigatório.
Obrigatório é cuidar do recém-nascido o melhor que se pode. Não somos menos mães se não pudermos amamentar, conheço mulheres a quem lhes espremiam o peito com febres altíssimas e diziam “ tens que amamentar”.
Essas experiências alheias fizeram- me sim repudiar a ideia da amamentação, mesmo muito depois de ser mãe. Cheguei a estar nas urgências com os meus filhos e sairem de lá mães a chorar com problemas no peito “ mas querem que amamente”. A maternidade , e mais especificamente a amamentação não devem ser um martírio. Conheço mulheres que amamentam e adoram, e outras que odiaram. O mais importante é a ligação. O Amor. Sim, o leite materno é prático e está sempre pronto e não existe o risco de alergias.
Mas quando existem limitações, sejam físicas ou por outros motivos, chega de culparem a mulheres ou de as julgarem.