Lembro-me do meu primeiro dia de escola. A minha mãe e o meu pai foram levar-me . Eu ia entusiasmada. Adorava escrever, ainda adoro. Aprender a ler era tudo o que queria. Fui uma excelente aluna na escola primária , apesar de ter uma professora à antiga, daquelas que batia a todos sem excepção. Nós, como tínhamos medo dela, omitiamos aos nossos pais.
O meu filho frequentou o jardim escola no mesmo edifício em que o irmão mais velho andou na escola primária.
O mais velho sempre foi o melhor aluno.
Houve uma situação no último ano, em que ele se negava a ir para a escola e chorava. Até que me confessou que era o " saco de pancada" de um colega.
Avisei a professora que me disse que não acreditava. Assegurei- lhe que o Henrique não mentia. E jamais acusaria alguém sem motivo. Não acreditou. Os dias foram passando e, o Henrique continuava a não querer ir à escola. Todos os dias chorava, e lá admitiu que o menino continuava a dar-lhe lhe murros .
Sabem como é a ira de uma mãe?
Fui um dia buscar o Henrique e, fui ter com o menino em questão.
Disse - lhe que se voltasse a tocar no Henrique ia ter uma conversa séria comigo.
Como por mágia, no dia seguinte o meu filho disse que o ex agressor de repente se tinha tornado amigo dele e até a mochila lhe carregava.
Assunto resolvido.
Os meus filhos nunca toleraram sopa. Nem fruta. Agora já vão comendo fruta mas vegetais? Nem pensar. Nem em bebés. Vomitavam tudo.
O Santiago foi para o jardim de infância e todos os dias se queixavam que ele não tocava na comida. Depois, começou a adoecer . Todos os dias estava doente. Febre, asma, gastroenterites. Três anos em que quase não foi ao jardim escola.
Começou a escola primária e, ele disse me logo que não gostava da professora. Que ela lhe gritava . Que o humilhava ao pé dos outros meninos ou porque se atrasava a fazer os trabalhos, ou porque se recusava a comer à hora de almoço no refeitorio.
Até ao ponto de sermos chamados pela diretora da escola que nos ameaçou de fazer queixa ao agrupamento, que o menino devia sofrer de algum trauma culpa dos pais e não comia. Fui com ele ao médico e a pediatra riu na minha cara.
"O seu filho tem peso a mais. A professora acusa- a de não lhe dar comida? Ó senhora, não se preocupem, ele é saudável, as crianças quando têm fome , comem, é uma fase".
Falei na escola do sucedido. Enfim. Foi como se não tivesse dito nada.
No segundo ano, o Santiago continuava a recusar se a comer no refeitório.
Chorava, gritava, vomitava.
Eu JURO, que nunca me passou na cabeça a razão de toda esta luta.
Até há bem pouco tempo.
Eu e o pai do Santiago separamo- nos e , ficou decidido que viria para uma das escolas da cidade. Escola nova, amigos novos e principalmente professoras novas.
Houve um problema no agrupamento e, o Santiago não foi colocado em escola nenhuma. Contactei o ministério de educação que em horas o colocou numa das escolas da cidade.
Antes disto , pensávamos que ele ia ficar na escola antiga.
Quando disse ao Santiago que provavelmente teria de ficar na escola antiga ele fez me prometer que não comia no refeitório. Já o ano passado fazia 8 kms todos os dias a mais para ele ir comer a casa comigo.
O Santiago começou a chorar compulsivamente. Eu estranhei.
"Mas... Porque é que não queres comer na escola Santiago?"
E foi aí, que me contou entre soluços, que quando andava no jardim escola uma educadora o obrigou a comer o vomitado.
Sinceramente, ainda não decidi se vou lá fazer um escandalo, uma queixa no agrupamento, até porque não tenho ideia de qual das educadoras ou auxiliar teve esse acto, quanto a mim criminoso para com o meu filho .
Mas, depois disto, fiquei com a pior impressão daquela escola, até porque mais pessoas devem ter assistido. O meu filho nunca me contou por medo de represálias, mas confesso que por dentro ando a ferver há vários dias e isto pode não correr bem.
Este ano, acompanhei todo o início escolar do Santiago. Adorei a professora à primeira vista. Adorei ver como todos os meninos a iam abraçar como se estivessem a ver alguém da família que adorassem.
Tive uma reunião com a professora que percebi ser uma pessoa sensível e, ao contrário de todas até agora, tem uma preocupação quase maternal para com todas as crianças . Vi- a interrogar um pai sobre a vida de uma das alunas, verdadeiramente preocupada.
O primeiro dia de escola a sério, deu me um aperto no coração, quando ele se dirigiu a mim e disse muito triste que não tinha amigos.
No segundo dia já tinha três amigos .
Ontem disse- me : " Mãe, sabes, na escola nova ninguém chama nomes a ninguém. Não há bullying".
Juro que estremeci. Senti- me culpada de o ter mantido tanto tempo numa escola onde a falta de educação e a selvajaria era uma constante. Notei uma diferença enorme no comportamento dele. Está mais empenhado, entusiasmado, mais leve e feliz.
E, quando lhe pergunto se gosta da professora, responde- me " Amo".