Hoje aconteceu uma espécie de “ discos pedidos “ no meu instagram. Desafiei quem me segue a propor alguns temas para que pudesse desenvolver livremente.
Um deles foi o suicidio.
Estima- se que, quase todas as pessoas, no percurso das suas vidas pensem pelo menos uma vez em acabar com a própria vida.
Basta- me ir ao meu arquivo de memórias para encontrar um sem número de pontos de ligação .
No início da idade adulta sofri de depressão.
Durante o primeiro ano ( altura em que não recordo absolutamente nada) foi difícil lidar comigo.
Posso dizer- vos que aos 20 anos já vivia sozinha e era auto suficiente, facto que dificultou que a família tivesse conhecimento disso.
Posso dizer- vos que recorri a imensos médicos, psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas , bruxos, espiritualistas, médiuns, padres, e nada, mas mesmo nada parecia resultar.
Nessa altura, foi a minha família que tomou as rédeas da situação.
Eu estava tão longe de mim que me tornei incapaz de agir ou reagir a qualquer tratamento.
Por mais que estivesse rodeada pela família e amigos sentia uma solidão tão profunda que parecia impossível que alguém chegasse até mim.
Após um longo tratamento de psicoterapia a minha vida foi voltando ao normal e descobri que a minha depressão não era só psicológica, o meu organismo não produzia uma substância indispensável para o normal funcionamento da psique ( se é que o posso explicar assim). Felizmente, hoje em dia é possível ultrapassar grandes problemas com pequenas soluções, com fármacos, embora o diagnóstico não seja simples.
Já falei deste assunto há alguns anos, e remexer nele é sempre difícil, só o faço porque tenho noção que pode ajudar a compreender o problema .
Tive uma grande amiga a partir dos meus 13 anos. Aquela amiga com quem fumei o primeiro cigarro, falei sobre o primeiro beijo, com quem passava manhãs e tardes nas aulas, ou em casa ou em perseguições próprias da adolescência aos rapazes que achavamos mais giros. Isto era normal na altura. Não existiam tecnologias!
Com quem bebi a primeira cerveja, a quem aturei inúmeras bebedeiras. A nossa ligação era tão visceral que enervava profundamente a mãe dela , que dizia querer ver a filha com boas companhias, “pessoas ricas”, e não pobretanas . Aquela era a altura em que as mães tinham um radar para as más companhias.
Na minha casa nunca se julgou ninguém assim, porque tinhamos problemas maiores.
O meu pai estava muito doente, era internado constantemente e era essa a nossa preocupação major.
Éramos tão viciadas uma na outra que vestiamos de igual, eu pintei o meu cabelo de preto, como o dela, e ela queria ter caracóis. Tivemos que ser literalmente separadas. A primeira tentativa foi aos 14 anos, em que fomos proibidas de frequentar a casa uma da outra. Segundo a mãe dela, uma das pessoas mais descompensadas e perturbadas que conheci em toda a minha vida, porque o meu pai era doente ( tinha Lúpus ) e podia pegar à filha.
A senhora em questão era administrativa do Serviço Nacional de Saúde, mas nem isso a fez ver que as doenças autoimunes como o Lúpus não são contagiosas. Tenho alguma dificuldade em escrever sobre esta pessoa. Não sou de todo rancorosa mas foi com toda a certeza das piores pessoas que tive o infortúnio de me cruzar na vida.
O meu pai faleceu meses depois e a minha amiga foi ao velório, mesmo sabendo que seria punida pela familia.
Aos 17 anos separaram- nos .
Mandaram- na para outra escola.
Assisti à degradação dela depois disso. Primeiro começou a andar com as pessoas que a mãe queria.
Pessoas com dinheiro. Tornou- se snob, e meteu- se em drogas duras. Tinha uma necessidade de afirmação imensa, e essas substâncias ajudavam a que se libertasse.
Fui assistindo ao longe a esse processo até que, acabou por quase perder a lucidez, altura em que os tais amigos a puseram de lado.
Encontrei- a várias vezes nessa altura, na rua, e ela não sabia quem era, a idade que tinha, a idade da filha bebé que tinha nascido entretanto.
Foi num domingo que me telefonaram a dizer que tinha morrido. E eu não me recordo de ter sentido tanta tristeza como naquela altura.
A M. não foi a minha única amiga a tirar a própria vida. Infelizmente, a droga ou a depressão roubaram- me algumas pessoas das quais gostava muito.
Todos nós somos responsáveis pelo flagelo que é o suicido. Todos.
O suicidio não é um acto cobarde. É uma tentativa de desligar o interruptor da dor. É o ultimo recurso de quem não aguenta o peso do próprio sofrimento.
Sempre que vejo comentários maldosos na internet ocorre- me que as pessoas não têm qualquer tipo de preocupação se tal vai afectar quem insultam.
A verdade é que a maldade, mesquinhez podem ser a gota de água para que alguém fragilizado cometa um acto desesperado.
Se sentes que a vida foge do teu controlo, pára. Procura ajuda. Existe sempre quem te possa ajudar. Sejam amigos, professores, familiares, profissionais de saúde. Há sempre solução. Mesmo que não a consigas ver. Existe sempre a possibilidade de fazer as pazes com a vida.
A depressão não é brincadeira. Não é capricho. Mas tem tratamento. Acreditar nisso é meio caminho andado.
Todos nascemos para ser felizes. Tive dificuldade em acreditar nisso durante demasiado tempo.
E são na maior parte dos casos as pessoas que mais nos deveriam ajudar, os principais impulsionadores da nossa tristeza, se estamos em baixo.
Cada vez que abrires a boca para falar de alguém coloca- te no lugar da pessoa. Para alguns, basta um insulto, um comentário sobre a sua aparência, caracter , característica para despoletar o gatilho.
Todos os dias assisto a pessoas amarguradas, maldosas que usam as redes sociais para destilar veneno. Deviam tratar- se. A internet foi das melhores coisas a que a humanidade teve acesso, e das piores também.
É importante saber que quem insulta, maltrata, seja de que forma for, não está bem, também.
Infelizmente, existe muita gente que se afasta de quem mais precisa. É também destas pessoas a culpa. Tomamos a amizade como facto adquirido e tantas vezes quando mais dela precisamos, nos apercebemos que ela não existe.
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Apoio em situações de crise pessoal e suicídio das 16h às 23h
S.O.S. Adolescente - 800 202 484
Conversa Amiga – 808 237 327 (chamada local)
Apoio, orientação e formação. Todos os dias das 15h às 22h
Linha SOS Palavra Amiga - 232 42 42 82
Todos os dias, das 21 à 01 horas;
Centro SOS-Voz Amiga: ajuda na solidão, ansiedade, depressão e risco de suicídio
Telef.: 21 354 45 45 - Diariamente das 16 às 24h
Telef.: 91 280 26 69 - Diariamente das 16 às 24h
Telef.: 96 352 46 60 - Diariamente das 16 às 24h
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Associação ILGA Portugal (Apoio sobre Homossexualidade)
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Informação e aconselhamento na área da saúde sexual e reprodutiva
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