Ontem pedi à Sofia, que vive entre Africa e Portugal, que nos falasse um pouco na realidade dos seus dias.
Vou transcrever(ok, copiar) o seu texto.
Oh Marta :) muito obrigada por falares de mim. Uma campanha fantástica e com artigos lindos e acima de tudo para uma causa muito nobre. A minha opinião embora seja apenas da experiência vivida nesta pérola do Índico, sei infelizmente, é também o geral de África. Ontem por exemplo celebrou-se o dia Mundial do HIV/SIDA, doença que arrasa famílias inteiras em África, uma doença silenciosa que causa milhões de orfãos, pois muitas das vezes o pai e a mãe são infectados e acabam por padecer da doença. É muito raro um casal por aqui ter menos de 4 filhos, diria mesmo (sem recorrer a nenhuma estatística) que as famílias costumam ter perto de 8 filhos, para terem uma ideia a população de Moçambique é de 20 milhões de pessoas onde se estima pelos últimos censos que mais de 10 milhões são crianças. Quando vemos os postais turísticos de Moçambique é nos mostrada a beleza natural, sem duvida uma das maiores do mundo, o sorriso do povo e a alegria constante. É sem duvida essa alegria que eu admiro, mas nem sempre compreendo, talvez por ter sido educada noutros padrões de qualidade de vida. Por aqui falta tudo, quando me refiro a tudo, falo mesmo do mais básico. O cenário quando nos afastamos pouco mais de 1 km de uma cidade é desolador, entramos numa casa, feita de barro e com telhado de palha, as divisões por vezes não existem, os moveis muito menos. Não há casa de banho, não há saneamento, não há camas. Os dentes escovam-se com pequenos ramos de árvores, uma escova de dentes custa perto de 50 cêntimos, mas como poderia um casal que vive com menos de 1€ por semana,( sim, estou a falar mesmo por semana, não é exagero, venham ver para crer) como poderia despender 5€ em escovas de dentes? O sabonete é por vezes o único artigo de luxo para a higiene pessoal. Não há fogões, a água aquece-se no carvão, mas o carvão ou a lenha são também poupados ao máximo por tanto os banhos são de água que aqueceu ao sol (no verão as temperaturas aproximam-se sempre dos 40º. O pequeno almoço é uma das refeições mais importantes em África, mas infelizmente nem todos o podem tomar, a sua importância deve-se ao facto de que vão passar imensas horas sem comer, nada garante que exista um almoço ou até mesmo um jantar, (nunca vi pessoas a lanchar por aqui por isso já saltei essa refeição). Podemos chegar a uma casa as 8 da manhã e apenas se ter fervido em água e açúcar um pouco de farinha de milho para acalmar os choros das crianças. A fome e a desnutrição são visíveis a cada passo, nem é preciso procurar muito, está em todo o lado. Roupas? A roupa é cara, mesmo comprando roupa usada tem um preço que muitos não podem pagar, as crianças por norma andam com a roupa até ela se desfazer em farrapos (geralmente sempre a mesma). Não há armário da roupa, quem precisa de um quando não se tem nada para colocar lá?! A educação é gratuita, no entanto precária, muitas crianças precisam de se deslocar vários km a pé, a maioria das escolas não tem cadeiras suficientes para os alunos. Por estes e tantos outros motivos o casamento infantil é socialmente aceite e até bem vindo porque vai (supostamente) melhorar a vida daquela menina e dos seus pais. O emprego não existe, cada um pode procurar um pequeno biscate mas não é garantido que o consiga. A falta de água é desoladora, crianças e mulheres caminham kilometros a fio a tentar encontrar um poço ou uma fonte publica. A rede de energia eléctrica não chega a todo o lado. São mesmo milhares de coisas, cenários demasiado tristes para nós que crescemos com tudo e mais alguma coisa, que reclamamos imenso com tanta coisa boa que temos. Mas o que admiro nestas pessoas é a força de vontade, a alegria de viver, é impressionante como mesmo com fome, basta uma máquina fotográfica aparecer para ser a alegria geral, basta uma musica tocar para todos dançarem. Mas África precisa de nós, de nós humanamente no local, a transmitir conhecimentos a apoiar as causas de perto. Espero que esta campanha ajude muitas pessoas, há muita gente a precisar. Obrigada Marta por partilhares sempre estas causas tão importantes. Um beijinho grande
versus

Vou transcrever(ok, copiar) o seu texto.
Oh Marta :) muito obrigada por falares de mim. Uma campanha fantástica e com artigos lindos e acima de tudo para uma causa muito nobre. A minha opinião embora seja apenas da experiência vivida nesta pérola do Índico, sei infelizmente, é também o geral de África. Ontem por exemplo celebrou-se o dia Mundial do HIV/SIDA, doença que arrasa famílias inteiras em África, uma doença silenciosa que causa milhões de orfãos, pois muitas das vezes o pai e a mãe são infectados e acabam por padecer da doença. É muito raro um casal por aqui ter menos de 4 filhos, diria mesmo (sem recorrer a nenhuma estatística) que as famílias costumam ter perto de 8 filhos, para terem uma ideia a população de Moçambique é de 20 milhões de pessoas onde se estima pelos últimos censos que mais de 10 milhões são crianças. Quando vemos os postais turísticos de Moçambique é nos mostrada a beleza natural, sem duvida uma das maiores do mundo, o sorriso do povo e a alegria constante. É sem duvida essa alegria que eu admiro, mas nem sempre compreendo, talvez por ter sido educada noutros padrões de qualidade de vida. Por aqui falta tudo, quando me refiro a tudo, falo mesmo do mais básico. O cenário quando nos afastamos pouco mais de 1 km de uma cidade é desolador, entramos numa casa, feita de barro e com telhado de palha, as divisões por vezes não existem, os moveis muito menos. Não há casa de banho, não há saneamento, não há camas. Os dentes escovam-se com pequenos ramos de árvores, uma escova de dentes custa perto de 50 cêntimos, mas como poderia um casal que vive com menos de 1€ por semana,( sim, estou a falar mesmo por semana, não é exagero, venham ver para crer) como poderia despender 5€ em escovas de dentes? O sabonete é por vezes o único artigo de luxo para a higiene pessoal. Não há fogões, a água aquece-se no carvão, mas o carvão ou a lenha são também poupados ao máximo por tanto os banhos são de água que aqueceu ao sol (no verão as temperaturas aproximam-se sempre dos 40º. O pequeno almoço é uma das refeições mais importantes em África, mas infelizmente nem todos o podem tomar, a sua importância deve-se ao facto de que vão passar imensas horas sem comer, nada garante que exista um almoço ou até mesmo um jantar, (nunca vi pessoas a lanchar por aqui por isso já saltei essa refeição). Podemos chegar a uma casa as 8 da manhã e apenas se ter fervido em água e açúcar um pouco de farinha de milho para acalmar os choros das crianças. A fome e a desnutrição são visíveis a cada passo, nem é preciso procurar muito, está em todo o lado. Roupas? A roupa é cara, mesmo comprando roupa usada tem um preço que muitos não podem pagar, as crianças por norma andam com a roupa até ela se desfazer em farrapos (geralmente sempre a mesma). Não há armário da roupa, quem precisa de um quando não se tem nada para colocar lá?! A educação é gratuita, no entanto precária, muitas crianças precisam de se deslocar vários km a pé, a maioria das escolas não tem cadeiras suficientes para os alunos. Por estes e tantos outros motivos o casamento infantil é socialmente aceite e até bem vindo porque vai (supostamente) melhorar a vida daquela menina e dos seus pais. O emprego não existe, cada um pode procurar um pequeno biscate mas não é garantido que o consiga. A falta de água é desoladora, crianças e mulheres caminham kilometros a fio a tentar encontrar um poço ou uma fonte publica. A rede de energia eléctrica não chega a todo o lado. São mesmo milhares de coisas, cenários demasiado tristes para nós que crescemos com tudo e mais alguma coisa, que reclamamos imenso com tanta coisa boa que temos. Mas o que admiro nestas pessoas é a força de vontade, a alegria de viver, é impressionante como mesmo com fome, basta uma máquina fotográfica aparecer para ser a alegria geral, basta uma musica tocar para todos dançarem. Mas África precisa de nós, de nós humanamente no local, a transmitir conhecimentos a apoiar as causas de perto. Espero que esta campanha ajude muitas pessoas, há muita gente a precisar. Obrigada Marta por partilhares sempre estas causas tão importantes. Um beijinho grande
versus