Se me dissessem há anos que teria de perder tudo o que perdi para ser eternamente grata pelo que tenho e sou, não acreditaria.
Durante anos a fio fui refém de uma tristeza que embora tivesse explicação ( aliás, várias explicações) me travava a vida e impedia de seguir em frente.
Acreditava que só seria feliz acompanhada, a viver um grande amor.
Entendia que a minha felicidade a fazer aquilo que gosto só era possível se tivesse reconhecimento e fosse valorizada por aqueles que trabalham comigo.
Ficava triste quando percebia que algumas pessoas não tinham que se esforçar nem trabalhar para serem validadas e por mais piruetas e malabarismos que fizesse, algumas portas estariam sempre fechadas para mim.
Podia ter mil pessoas a enaltecer- me que a minha preocupação seria sempre com quem me ridicularizava ou ignorava.
Um dia, perdi quase tudo.
Uma vida confortável, pessoas que amava profundamente morreram, deixando- me mutilada emocionalmente e vi- me com quase 40 anos como uma derrotada.
Como se todas as minhas lutas e glórias de repente não tivessem qualquer valor ou importância.
Tive amigas. Verdadeiras. E as verdadeiras são as que confiaram de olhos fechados. As que nem precisaram de saber, e ainda assim ajudaram porque olham com o coração.
Tive excelentes professoras, que foram as falsas amizades, manipuladoras, sem valores, que me colocaram à prova nos mais diferentes cenários. E me fizeram crescer.
Todas as perdas que tive deram- me um poder que eu não julgava existir.
O poder de ser eu, sempre.
Sem querer impressionar ninguém. Sem me preocupar com quem vai mais longe sem qualquer mérito.
Sou eu quem mais ganha com todo o esforço e caminho que percorro. O que faço hoje, não o faço em busca de validação, é um exercício pessoal.
A nossa sociedade está longe de ser perfeita. E, também eu sou imperfeita.
Existem pessoas que, sem me terem feito qualquer mal, não me agradam. Pode ser uma questão de energias, e eu não faço como antes, que me obrigava a relacionar com essas pessoas para deixar de ter minhocas na cabeça.
A nossa intuição é uma arma poderosa a nosso favor.
Somos animais, devemos confiar nos nossos instintos que por vezes são tão mais certeiros que a nossa racionalidade.
Nunca pensei que a felicidade fosse algo tão simples. Que dispensasse tudo aquilo que eu tinha como imperativo para a conseguir.
Nem sempre a felicidade precisa de risco, de estar no limite, de um amor de perdição, de paixão, de aplausos por parte de pessoas que se têm por superiores. Superior é quem é feliz!