O Amor também é isto

Sei que a maioria de vós  prefere blogues solares, em que a vida seja uma festa, se mostrem viagens, vidas perfeitas.
Sabem que eu não acredito nisso. Talvez porque a minha vida seja demasiado real,  e neste momento esteja a passar por várias situações muito, mas muito delicadas.
Este blogue, irá sempre ser o meu ponto de encontro com quem me segue desde sempre, ainda que cada vez menos me exponha ( ou tente), por razões obvias, tenho necessidade de escrever, partilhar sentimentos e emoções. Talvez seja uma tonta. Talvez não consiga deixar de ser genuina.
Hoje, a vida pregou- me mais um susto. O meu avô, que amo de forma indescritível, sentiu se mal à minha frente. Tive que pegar nele. Deita- lo, e chamar o 112.
Mais uma vez, foi levado para o Hospital. No dia do aniversário do meu filho.
As dificuldades constantes da vida dão - nos um sangue frio e uma capacidade de organização incrivel. Enquanto aguardavamos o INEM, pensei que o perdia. Ele aninhou - se em mim. O homem que sempre me protegeu fechou os olhos, ficou gelado, inerte, e apenas o leve aperto da sua mão na minha , após minutos de respiração aflitiva, me mostrava que ainda havia vida , ali.
Um dia, quando descobrimos que tinha Alzheimer, pedi a esse Deus, que tantas vezes se parece esquecer de mim, que o meu avô nunca, mas nunca, se esquecesse de quem eu sou.
Deus foi generoso. Mesmo quando esqueceu toda a família, olhava para mim e dizia " eu não sei quem és, mas sei que és minha", e sorria.
Felizmente, e com a medicação certa, a memória melhorou um pouco. E agora recorda os familiares mais próximos.
Mas hoje... doeu.
Vi um dos momentos que menos queria ver , aproximar- se demasiado.
Tínhamos estado a fazer contas de multiplicar, de dividir, mania minha a de o manter ocupado, para que lute mais, não desista.
Tiramos fotografias...
Crescer será sempre sinônimo de soltar amarras, levantar âncoras, deixar partir. Aceitar.
Ainda não cresci. Talvez nunca cresça.
 Ter um Mundo de sentimentos e emoções a morar dentro de nós é muitas vezes complicado de gerir. Não poder desligar sofrimentos, adiar dores, pagar a prestações ( suaves) cada dano na alma.
A vida é felizmente muito mais que estas fases de amadurecimento.
No entanto, por mais que amadureça, não pretendo amargurar - me com a vida. Talvez aprenda a aprecia- la de uma forma mais consciente e realista .  Talvez me sirva do que me foi ensinado para limar cada aresta...
Talvez o melhor seja pensar menos, descomplicar ,deixar os sentimentos serem como um rio, fluirem.
Aprender a aceitar o que não podemos mudar. Preencher as nossas faltas e falhas com o que nos faz bem. Ver algo de bom em tudo. Exigir menos, e ser muito mais.
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