Levo-te pela mão. Meu menino maior. A noite está tão agradável que parece que andamos a passeio.
-Diz a verdade...quiseste foi dar uma voltinha, estavas farto de estar em casa.
Esboças-me um sorriso.
Aproximas ainda mais o braço que tenho dado ao teu para que não caias em sinal de conforto , carência.
Na clÃnica somos rápidamente atendidos.
As calças estão grandes demais para ti.Esta doença levou-te mais de 20 kg.
Enquanto o médico fala e pesquisa algo no computador debates-te com o cordão das calças do pijama pacientemente sem te aperceberes que repetes movimentos .
O médico apercebe-se e parece irritá-lo.
-Tem Alzheimer.- digo em surdina , estupidamente, algo que o médico já havia lido nos arquivos.
Pergunto ao médico, se dada a tua infecção há a possibilidade de ficares internado.
É uma clÃnica, a diária é bem mais cara que qualquer Hotel 5 estrelas , uma vez que não moramos na mesma localidade teria a certeza que farias a medicação correcta.
A resposta veio de jacto:
-Não, estamos cheios!
Claro que sim...
Esta é uma realidade nova para mim
Discriminação contra doentes de alzheimer.
Logo tu que és tão calmo.Sim, esqueces-te, confundes.
Mas não darias muito mais trabalho que qualquer outro doente.
Irritada reclamei do cateter que te deixaram no corpo da última vez que foste as urgências.
-Ah isso acontece em todo lado.
-Desculpe?! Tenho 37 anos.Sou asmática e garanto-lhe que tal NUNCA me aconteceu em nenhum hospital público!
E mais! Fiz questão de comentar publicamente essa situação e houve uma indignação geral por parte do público!
Uma ClÃnica Cuf não pode ter como resposta perante um esquecimento destes um "acontece em todo lado".Devem preocupar-se com o que acontece nas vossas instalações e fazer com que jamais aconteçam situações destas.Falamos de um doente de Alzheimer!
Chegamos à tua rua, com mais um medicamento levantado , e tu a brincar com a campainha indiferente aà que te dizia:
-Gastinho! Não toques à campainha para não acordar a avó!
E rias divertido da marotice, olhavas para mim , desafiando-me e voltavas a tocar à campainha.
-AÃ! Estas pior que o Santiago!!!! Que maroto!!!
Deixei-te já com o leitinho quente à frente e comprimido tomado.E uma Mimi mais descansada.
E segui para casa, feliz por cada momento partilhado contigo.
Em que és tão meu. Em que sem que te apercebas demonstras tanto carinho, onde todos só vêem trabalho.
5 comentários
Porra o que acontece nos outros lados não é desculpa para acontecer lá.. Claro e eles que não estivessem com uma desculpa na ponta da lÃngua... Oh querida, como te admiro ainda mais e respeito!!! <3
ResponderEliminarAs melhoras Martinha,infelizmente é uma realidade no nosso paÃs, mas esquecem que possam a vir ter a doença. , mima muito o teu avô bjinhos
ResponderEliminarChegamos a uma altura em q voltamos a ser meninos, em querer fazer umas travessuras e receber mts miminhos, admiro-te mt pela tua relação tão linda c os teus avós ♥
ResponderEliminar♥ Eu repito o que a Sandra disse, exatamente porque penso da mesma forma: Eles/Elas voltam à meninice, com tudo a que têm direito. O meu avô, agora, faz birras! Admiro muito (não é admiro-me muito) o teu amor pelos teus. Eu tento o mesmo, acompanhá-lo mais, mas felizmente o meu avô tem a filha (minha mãe) que é o seu maior apoio! ♥
ResponderEliminarFeliz do teu avô que alguém como tu para ajudar a cuidar dele.
ResponderEliminarObrigada pelo teu comentário!