What about Cinderella?

Durante parte da minha Infância e adolescência, passei por algumas mudanças fulcrais e perdas irreparáveis.

Alturas em que a tristeza e os gritos mudos eram a minha única certeza.

E foi aí que criei um Universo paralelo, a partir da minha imaginação e sonhava que era feliz, que estava rodeada de amor, e que tudo era positivo e radiante.

 Como sonhar acordada não era suficiente comecei a escrever estes "sonhos".

Escrevia, escrevia e quanto mais o fazia, maior era a sensação de alívio, de leveza, como se o Mundo dos Sonhos me emprestasse alguma da sua luz para que eu pudesse sobreviver aqui.

Acreditem ou não, tenho a certeza que devo a minha vida a  estes "escapes"  onde ía buscar combustível para o dia-a-dia.

 Eram os meus sonhos, as minhas histórias e os livros que lia, que me mantinham viva e me permitiam continuar.

Sempre fui apaixonada por contos de fadas, e queria imensamente viver um.

Talvez visse semelhanças entre os contos de fadas e a minha vida...

Gostava especialmente da Cinderela, e ficava horas a imaginar o seu vestido  e os sapatos de cristal, o príncipe de sapatinho na mão, em busca da mulher por quem se tinha apaixonado à primeira vista! 

Infelizmente, a vida nada tem a ver com estas histórias infantis. Nenhum príncipe nos salva ou procura. E nem sempre se dá um final feliz.

Os maiores choques da minha vida não foram aqueles que a morte me roubou, mas o que a vida não deu.

Hoje, sou a minha própria heroína, não espero absolutamente nada de ninguém e agradeço a pessoa em que me tornei.

A Cinderela fugiu de casa, decidiu conquistar o Mundo e como não tinha sapatos, foi descalça.