Lavar as mãos com lixívia e outros absurdos cosméticos: quando o " brejeiro" vence a inteligência
Num mundo em que a velocidade do scroll vale mais do que o valor do conteúdo, a nova elite do "skincare" aprendeu uma verdade desconfortável: se parecer convincente, ninguém vai confirmar se é verdade.
Foi assim que, sem qualquer vergonha, uma influencer teve a genial ideia de ensinar as seguidoras a lavar as mãos com lixívia para as deixar mais macias. Sim. Lixívia. Aquela coisa que se usa para limpar sanitas e desinfetar sangue de carne crua, agora elevada a tratamento de beleza pelas mentes brilhantes do TikTok.
E não é caso único. A cada semana surge uma nova "receita caseira revolucionária" que mistura ingredientes que não pertencem à pele com promessas de juventude eterna. Pastas de dentes para secar borbulhas, cola para remover pontos negros, limão para clarear manchas (e arrasar com a barreira cutânea), bicarbonato como esfoliante e por aí fora.
O problema não é só a falta de formação de quem fala. É a falta de pensamento crítico de quem ouve.
Porque quem tem pele sensível, quem já sofreu com acne, rosácea, ou mesmo com uma autoimagem frágil, está vulnerável a tudo o que lhe prometer alívio rápido. E é nesse buraco que o marketing escorrega sorridente, vendendo a ilusação de que tudo é resolvível em três passos ou com um produto viral.
Mas não há retinol que apague queimaduras de lixívia.
Não há ceramidas que reconstruam pele destruída por ácido cítrico concentrado. Não há glow que valha quando a barreira cutânea está feita em papa.
E pior: muitas destas dicas perigosas passam de mão em mão como se fossem segredos preciosos, quando na verdade são práticas tóxicas mascaradas de autocuidado.
A responsabilidade devia ser partilhada:
Das redes sociais, que amplificam idiotas com boa iluminação.
Das marcas, que se aproveitam do medo e da desinformação.
E de cada um de nós, que temos o dever de pensar antes de acreditar.
Beleza não é ignorância com filtro. Beleza é conhecimento. É escutar o corpo. É distinguir uma rotina de cuidado de um ritual de autoagressão disfarçado de conselho popular.
O que colocas na tua pele é uma escolha que vai para além do espelho. É um acto de respeito por ti.
E se tiveres mesmo que usar lixívia... Que seja para o que foi feita: tirar manchas da roupa. Não da alma
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