Anacronismo



Nos últimos tempos, parece que a história de Portugal se transformou num tribunal onde somos os eternos réus.
Durante séculos, aprendemos que fomos 
navegadores, descobridores, que ligámos continentes, que criámos pontes entre culturas.
Agora, de repente, tudo isso é visto de outra forma: fomos opressores, exploradores,colonizadores cruéis.
E pior: há quem defenda que os portugueses de hoje devem pagar pelos atos dos portugueses de há 500 anos.
Mas até que ponto isso faz sentido?
Aqui entra um erro muito comum quando falamos sobre o passado: o anacronismo.
O que é o anacronismo?
É o erro de julgar o passado com os valores do presente.
A questão não é negar que houve exploração, violência e injustiça. Nenhuma colonização foi pacífica. Nenhum império foi construído sem guerra. 
Mas também não podemos olhar para a história com as lentes de hoje e exigir que o passado tivesse os mesmos princípios éticos que temos agora.
O mundo do século XV e XVI não funcionava com os valores do século XXI.
 Se formos entrar na lógica de exigir compensações históricas, então teríamos de:
 Pedir que os italianos paguem pelos danos do Império Romano.
Exigir que os mongóis indenizem os países que Genghis Khan destruiu.
Obrigar os árabes a pedir desculpa por terem conquistado a Península Ibérica.
Viram o ridículo da situação?
A História não se corrige pedindo dinheiro ou destruindo monumentos.
"Devolvam o Nosso Ouro!" – Uma Narrativa Sem Sentido
Um dos melhores exemplos desta visão distorcida do passado é o famoso pedido :
"Devolvam o nosso ouro!"
Mas esperem lá… o ouro do Brasil não era "brasileiro".
 No século XVI, o Brasil não era um país. Era uma colónia, parte do Reino de Portugal.
 O ouro extraído do Brasil fez parte do funcionamento da economia da época – como qualquer outro império fez com os recursos das suas colónias. E quando o Brasil se tornou independente, em 1822, o primeiro governante não era um brasileiro indígena ou africano – era Dom Pedro I, um português.
Então, se formos por esta lógica, Portugal também pode pedir reparações por todos os impostos que pagou à monarquia espanhola durante o período da União Ibérica?
A História não pode ser tratada como um saldo devedor eterno.
Destruir Monumentos Apaga o Passado?
Outro erro moderno é achar que derrubar estátuas e destruir monumentos históricos vai mudar o que aconteceu.
 Monumentos que antes eram vistos como homenagens à coragem e ao engenho humano, hoje são atacados como se fossem celebrações da escravidão e da opressão. Há quem peça que se retirem nomes de escolas, que se eliminem feriados, que se destruam traços da nossa herança histórica como se apagar os símbolos fosse apagar os factos.
 No limite, estamos a entrar numa guerra cultural absurda onde se quer fazer de conta que a História nunca aconteceu.
A solução não é destruir, mas contextualizar.
 Em vez de derrubar um monumento, que tal colocar uma placa explicando melhor o que ele representa, sem romantizar, mas sem falsificar?
 Em vez de tentar eliminar feriados históricos, porque não aproveitá-los para educar?
 Em vez de negar a nossa História, porque não estudá-la e compreendê-la sem histerias?
A destruição da memória histórica não muda o passado – apenas nos torna mais ignorantes sobre ele.
E Quem Sofreu no Lado de Cá? Os Portugueses Que Foram Obrigados a Partir?
Sempre que se fala das Descobertas, parece que os portugueses viviam num luxo absoluto, sentados em tronos de ouro, enquanto exploravam o mundo.
Mas a realidade era outra.
Milhares de homens foram forçados a embarcar para viagens onde sabiam que provavelmente não voltariam. Os primeiros que partiram não eram nobres ou ricos – eram camponeses, pescadores, órfãos, criminosos condenados.
As viagens eram brutais. A maior parte morria pelo caminho – de escorbuto, de fome, em tempestades ou em batalhas contra povos hostis.
 Muitos foram abandonados em terras desconhecidas, deixados para morrer, porque os navios já não tinham como levá-los de volta.
 Mesmo os que chegavam ao destino eram muitas vezes mortos pelos habitantes locais ou morriam de doenças tropicais.
Ou seja, não foi um passeio de luxo para ninguém.
A expansão marítima não foi apenas um movimento de conquista e poder. Foi também uma epopeia de sacrifício, sofrimento e morte para os próprios portugueses.
Portugal Não Foi Só Conquistador – Também Fomos Conquistados
Antes de partirmos para o mundo, também nós fomos invadidos e dominados.
 Fomos uma colónia romana.
 Fomos governados pelos Mouros durante séculos.
 Castela quis anexar-nos mais do que uma vez.
 Fomos invadidos por Napoleão.
Ou seja, antes de sermos conquistadores, também fomos conquistados.
E mesmo antes disso, quem éramos nós?
 Os Celtas, um povo guerreiro, que já cá estava antes da chegada dos Romanos. Os Lusitanos, que resistiram bravamente a Roma, com Viriato à cabeça.
 Os Iberos, que viviam em clãs e tinham uma cultura própria antes da influência estrangeira.
Portugal é o resultado da mistura de todos esses povos.
Então, Devemos Sentir Culpa Pelo Passado?
 Devemos reconhecer os erros cometidos? Sim.
 Devemos ensinar História com honestidade? Óbvio. Mas devemos passar a vida a pedir desculpa e a pagar por algo que aconteceu há 500 anos? Não faz qualquer sentido.
A História não é um tribunal onde os descendentes pagam pelos erros dos antepassados.
 O Brasil, Angola, Moçambique e outros países que foram colónias são hoje independentes. Têm os seus próprios governos e decidiram o seu próprio rumo.
 Portugal não tem culpa pelos problemas que esses países enfrentam hoje.
 Nenhum português beneficia atualmente do colonialismo. O que havia de riqueza desapareceu há séculos.
Então, por que razão continuam a pedir "compensações" e "desculpas eternas"?
A resposta é simples: porque é mais fácil culpar o passado do que resolver os problemas do presente.
Conclusão: A História Ensina, Não Cobra
Portugal tem uma história grande, complexa, com erros e acertos.
 Não devemos fingir que tudo foi perfeito.
 Mas também não devemos aceitar sermos vistos como os únicos "vilões" da História.
A solução não é pagar indenizações, nem destruir monumentos. A solução é conhecer a História, estudá-la sem fanatismos e seguir em frente.
Porque, no final das contas, o passado não pode ser mudado – mas o futuro pode ser construído com mais inteligência e menos ressentimento.
A acrónismo histórico

 


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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

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