" Galochas com olhos de sapo"

Eu devia ter por volta de cinco anos , quando tive as minhas primeiras botas" normais", antes disso, usei botas ortopédicas receitadas pelo médico para o " pé chato".

Odiava-as! Todas as meninas com botas e botins giros e eu com umas botas que pesavam mais que eu.
Até que me libertaram desse peso , literalmente.
Na altura , estávamos no Inverno, há mais de 30 anos , existiam poucas estradas alcatroadas , é incrível, mas verdadeiro.
Também existiam muito menos automóveis, início dos anos 80, e o que predominava eram os caminhos em terra batida.
Usava aquelas collants quentinhas e, a moda para as crianças era clara : botins de várias cores ,com olhos. Era como de tivéssemos sapos calçados, e apesar das galochas da altura serem de péssima qualidade , desconfortáveis, não havia criança que não suspirasse por umas com olhos de sapo.
As minhas eram vermelhas e para mim ter algo que toda a gente tinha, sentir-se me integrada, foi muito importante.
Existia coisa melhor que irmos saltar livremente para as poças de água? Jamais.
E éramos crianças- sapo felizes, sem limites nem imposições, não fazia mal sujar as botas que eram para isso mesmo. Davam até ao joelho.
Depois disso, não tenho grandes memórias de calçado, sempre tive o pé grande, era a menina mais alta e magricela.
Mas, continuo a gostar de botas. E de botins. Bastante mais simples. 
Perdi a vontade de saltar em poças de água, mas um dia compro uns botins para o Santiago e vamos os dois experimentar o tipo de coisas que as crianças já não fazem. 
Andar de capa de chuva, galochas até ao joelho, dançar na rua de gorro e cachecol protegidos por chapéus de chuva cheios de bonecos e, sentir a liberdade que apenas as crianças sentem. Correr na relva molhada, dar cambalhotas nos ferros, trepar árvores... 
Felizmente, vivendo no Oeste, ainda se encontram alguns sítios que nos permitem essas alegrias.
Ele vai provavelmente olhar para mim, avisar-me que me vou constipar é que prefere ir para casa jogar.
Brincar na rua foi um dos meus maiores privilégios de criança. A interação com vizinhos, primos. Aos seis anos já fazíamos longas distâncias a pé, sozinhos. Agora os miúdos têm 12 anos e vamos buscá-la de carro para que não apanhem frio.

A paixão pelas botas continua. Num contexto mais sóbrio e adulto, mas tenho algumas dezenas de botas...






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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

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