Amor
Dormi muito pouco, mas no pouco que dormi sonhei com duas das pessoas que mais amei na vida. O meu avô e a minha mãe.
Amei muito em 43 anos de vida. Os meus filhos, os meus avós maternos e paternos, irmãos, amigos, e pais.
A minha vida tem sido sim pautada por muito amor. IncrÃvel como só atingi isso após uma noite de sonhos tão maus.
A minha história de Amor com o meu pai foi muito curta.
Ele adoeceu quando eu tinha oito anos e os que se seguiram vejo-os como que envoltos numa névoa de dor e sofrimento, como acontece quando alguém que amamos profundamente passa por uma situação de doença terminal.
Não sei se é a distância no tempo que me impede de qualificar a dor, se é mesmo assim.
Com a minha mãe temo sempre ter tido uma história de amor mal estruturada .
Sei que não aceitou bem o facto de ter engravidado de mim.
E... Não sei se não conseguiu lidar com isso da melhor forma, mas a nossa história é pautada de diversas situações em que fez questão em mostrar-me que não era uma prioridade na sua vida. Ainda hoje, doente o faz. Aliás, mais que nunca.
Resolvi não voltar a aprofundar muito estes episódios porque é maior a mágoa que me traz que o alÃvio.
A minha mãe está muito doente.
E garanto-vos que nunca, por maiores que tenham sido os momentos de ressentimento ou dor lhe desejei que passasse o que tem passado.
Que ainda nos afastou mais...
Depois, há o meu avô. Há. O meu avô é imortal. Vive na minha memória.
É a pessoa mais sensÃvel, culta e inteligente que conheci em toda a minha vida. Um homem que me amou profundamente toda a vida e nem com o alzheimer que o consumiu nos últimos anos se esqueceu de mim.
No sonho que tive esta noite, chorei. Chorei pelas memórias que me iam passando à frente, chorei pelas palavras de conforto e amor que sempre me dirigiu, e chorei pelo hiato que a sua ausência deixou na minha vida.
Quando ele morreu, morreu o meu pilar, quem me recordava a cada conversa do meu valor, o quanto me amava, o orgulho que tinha de mim.
Quem me ensinou que o mais importante na vida era a tolerância que tinhamos que ter para com quem amavamos. Que me transmitiu que o Homem esquece, Deus perdoa, mas a Natureza não.
Que em tudo há uma espécie de equilÃbrio kármico.
O meu avô sempre me viu como uma supermulher, uma guerreira e comparava -me à sua mãe que tinha criado dois filhos sozinha, após um divórcio nos anos 30(imaginem).
E eu não me sinto nenhuma fortaleza.
Hoje é um dia em que sou só o castelo de areia que a onda do mar deitou abaixo. Estou cheia de dúvidas e incertezas e carregada com as saudades dos que já não voltam, vivos e mortos e isso rouba-me a força.
1 comentários
Tu és grande Martinha, e forte ♥
ResponderEliminarObrigada pelo teu comentário!