Este luto
Pensava eu conhecer já o significado da palavra "luto".
Primeiro, perdi o meu pai. Não aos 15 anos, quando deixou este Mundo, mas aos meus 8 quando adoeceu e mudou a vida de todos nós enquanto lentamente ia deixando a sua .
Depois perdi a Marta, tinha a minha idade , o meu nome e tinha sido a minha melhor amiga nos anos mais difÃceis da minha vida .
Depois, o avô. Ah, que golpe duro.
Golpe que me mutilou , pela doçura que o avô era, pela sua educação e sabedoria . Que pessoa especial, tão cheia de Amor e gratidão . Que privilégio ter sido meu e eu dele.
A figura predominante na minha vida foi sempre a avó . Muitas vezes asfixiante, muitas vezes quase que castrante, ditadora, capaz de uma chantagem emocional que me deixava a sentir culpada e refém e me " cortou as pernas " tantas vezes .
Foram 47 anos em que uma viveu para a outra . Apesar de todos , apesar de tudo . A Mimi queria mandar no Mundo inteiro. Queria que as coisas fossem à sua maneira . E se não eram fazia birra, amuava, " mandava à cara" , trinta por uma linha porque o objetivo, o fim validava todos os meios . Sabemos que não é assim, mas para ela era.
E muitas vezes me incomodou a forma como tantas vezes manipulou e interferiu e tentou que fosse tudo como queria. Era uma controladora . Deixou de o ser no dia em que o avô partiu . Permitiu aÃ, com algum prazer desfrutar dos anos restantes que a vida lhe reservara. Encostou -se no sofá, foi servida , tratada, cuidada sem ter que pedir, que chamar a atenção, ou discutir.
O que jamais pensei é que não fosse eterna .
Não era .
Morreu-me.
E agora tudo me recorda aquela que sempre foi a minha alma , a minha consciência que me ensinou tudo menos a viver com a sua ausência .
E , honestamente, ninguém devia chegar tão próximo da nossa alma. Porque depois aprender a viver sem parte da alma é aflitivo.
Custa respirar. Custa continuar. E por mais que para alguns seja drama , garanto que me estou nas tintas para opiniões externas .
Não há uma alma neste mundo que me possa dizer o que devo sentir .
Não há ninguém com essa legitimidade, esse poder, esse direito.
Não há quem possa impedir de viver esta dor. Durante os sete anos de ausência do avô tentei calar a dor. Desta vez não consigo. Como se respira sem pulmões ? Como se ouve a batida do coração quando nos foi arrancado ? Como vemos se a dor nos cega?
Quem me vai amar agora? De uma forma feroz, completamente irracional , tóxica e controladora ?
O único amor do qual nunca duvidei. O da avó. Que era para sempre.
Que desgosto o meu, este de não ter a tua fé.
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