Estou em falta por aqui . Demasiado silêncio, durante muito tempo .
A minha vida mudou . Já não sou a blogger que recebe produtos das marcas , nem a que vai a eventos , aquela que nunca ninguém entendeu bem o que fazia naquele mundo tão restrito ,de mulheres supostamente superiores”, de poder económico elevado , bem nascidas , de corpos padrão na sua maioria e também com uma antipatia proporcional
à sua capacidade de fazer o que quer que fosse para ascender no Mundo do reconhecimento virtual , dos likes e dos seguidores .
à sua capacidade de fazer o que quer que fosse para ascender no Mundo do reconhecimento virtual , dos likes e dos seguidores .
Houve uma altura , no inÃcio em que estranhei muito . Do “ nada “ sendo eu uma “ Zé Nonguem “ nascida no seio de uma famÃlia disfuncional , que havia sofrido os mais diversos acontecimentos , chamemos -lhes assim , traumáticos, ainda na infância , nunca me identifiquei nem fui capaz de entender os critérios das marcas que davam produtos anti idade a meninas de 20 que ninguém sabia quem eram, ou que tinham como seguidores meninas da mesma idade, portanto, público alvo, zero .Como é óbvio existiram aquelas que prosperaram, algumas ( muito poucas ) porque trabalharam que nem loucas , eram pros em chamar a atenção e tinham autênticas máquinas de marketing por trás . A minha vénia , os meus parabéns .
Eu tinha já mais de 36 anos e nunca me senti integrada . Mas cheguei a receber mails, mensagens de ameaças, insultos , com as afirmações mais isentas de inteligência , empatia ou simpatia .
“ Nunca vais ser ninguém, desiste “
Hoje passaram quase 12 anos do inÃcio do blogue que , apesar de pouco escrever não faço intenções de largar . Porque não vivo de modas e tendências . Sou realmente antiga . Estou com 47 anos imaginem , sou praticamente o fóssil dos blogues .
Pouca coisa mudou . Agora em vez de blogger e fala-se em influencers , pessoas que nas suas redes sociais amontoam seguidores ou se fazem presentes e agem de forma que se estsivessemos há dez anos atrás seriam comidas vivas .
Obviamente que a idade nos faz passar por cada vez mais situações desagradáveis . As perdas daqueles que amamos , o envelhecimento daqueles que nem nos lembrávamos que não seriam eternos , a doença e deterioração dos nossos mais idosos ( e não só ) as nossas próprias maleitas , de problemas psicológicos a doenças que veem e se instalam . E nos dominam . E nos começam a controlar a vida . Mesmo que carreguemos às costas o peso de Atlas . Cuidemos de familiares vulneráveis , filhos , trabalhamos. .
Acho que por aqui fui mais longe que alguma vez julguei poder ir .
Tenho muito a agradecer a algumas RP de marcas , fui bastante destratada por agências de comunicação que tinham por exemplo o hábito de fazer convites e enviar novos emails a “ desconvidar”. Talvez para humilhar , talvez porque tirando raros casos que são sucessos inquestionáveis nunca acertaram minimamente naquelas com quem decidiam colaborar ou presentear com os seus caixotes de produtos que sequer eram mostrados . Só se mostra se houver dinheiro em jogo . Sabem que mais ? Estão certÃssimas. Ninguém tem ideia na entrega e no tempo que se gasta a editar um vÃdeo , em cada detalhe .
Algumas funcionárias de agências de marketing foram incrÃveis comigo enquanto que outras deviam acreditar que eu sofria de oligofrenia e não ia entender que “ não há produto “ e ver todo um grupo de meninas das quais 80% eram totalmente desconhecidas e acima de tudo irrelevantes ao nÃvel da influência não ia fazer com que os seus produtos fossem mais vendidos .
O meu filho esteve muito doente , a iminência da sua morte , essa possibilidade posta em cima da mesa fez -me rever muita coisa .
Não tinha que provar nada para ninguém . Se queria o produto podia comprar então não fazia sentido esperar que me oferecem a troco de bases, batons ou cremes e criasse conteúdo que não ia pagar -me as contas .
Foram poucas as vezes que cobrei e muitas as vezes que marcas e agências muito conhecidas me prometeram determinadas oportunidades e imaginem , desapareceram do mapa . Afinal quem é que aquela Marta provinciana e obesa pensava ser quando nem farmacêutica era nem tinha conhecimentos nos mundo das celebridades .
Ainda assim, algumas lojas e marcas continuaram com simpatia a lembrar -se de mim .
Se não sabem, ficam a saber agora que tenho uma página no Facebook com mais de 125 mil seguidores e um alcance BRUTAL de cerca de 8 milhões de pessoas . Orgânico . Nunca paguei ou promovi um post . Lá falo de tudo . Faço as minhas lives . Sou procurada pelas mais diferentes pessoas desde a madame X jornalista à actriz Y , ao José das Batatas , à Beatriz que tem cancro X à Filipa que adora maquilhagem , à Fátima uma fã acérrima de skincare . A mulheres que sem me conhecerem por me seguirem há tantos anos me consideram amiga e têm sempre uma palavra de alento , um elogio , uma questão pertinente seja dentro da área que for , e quando não tenho conhecimento largo a questão sem expor quem pergunta .
Durante anos tenho exposto casos de pessoas que têm menos que eu . A quem doenças fatais as afastava de tudo e todos e deixava no peito apenas o medo e a sensação que estavam diante da morte . Já perdi tantas para essas guerras . Cada vez que tenho conhecimento sinto -me mais pobre . Mais vazia . Não tenho qualquer problema nem sensação de culpa de cada campanha que criei para ajudar seja quem for , ou a mim nos monentos mais difÃceis . Sinto sim um orgulho gigante do altruÃsmo de quem ajudou , da bondade de quem s dispendeu algum do pouco que tinha em prole do próximo .
Tenho para com estas pessoas uma dÃvida que só consigo pagar com a minha presença na página , seja por direto , seja nos textos parvos que de vez em quando público .
Dou as minhas opiniões leigas sobre a atualidade . Tento não ofender ninguém .
Mas estou aqui . A passar mais uma vez por uma das fases mais difÃceis da minha vida que ambos avó e marido lutam pela sobrevivência . Em que mais uma vez me confronto com a demência , falhas cognitivas , muita agressividade que reconheço ser da doença uma vez que doenças neurológicas fazem desaparecer o filtro social . Deixamos de conseguir aparentar ser pessoas normais que se encaixam na sociedade e somos aqueles que quando se fecham as portas de casa conseguem causar dor aos que mais deviam amar . Até porque sem eles, não têm absolutamente mais ninguém .
Vejo -me neste e momento enclausurada numa casa , mais uma vez , a gerir duas casas onde vivem dois doentes graves em que um deles parece sentir um gozo enorme no sofrimento que causa . Não que seja novidade mas nos primeiros tempos conseguiu disfarçar .
Questiono-me vezes sem conta porque estou aqui quando nada mais há para ver . Quando a Esperança
se tornou apenas um nome feminino
Queria terminar este post de forma positiva . Existem dias em que conseguimos tolerar . Mas por favor , não façam como eu . Não voltem por pena de alguém que vos fez sofrer tanto , acabar sozinho .
Nenhuma mulher devia ter que passar pela humilhação continua, o insulto gratuito porque alguém por quem ela está a sacrificar tudo e por quem largou tudo não consegue reconhecer o bem que lhe faz .
Talvez eu não consiga deixar de me sentir responsável por ele que é na verdade ou eu achava que era apenas o pai do meu filho e meu melhor amigo .
Não posso falar no passado dele porque as histórias não são minhas mas entendo muita coisa agora .
E ainda bem que há mulheres com mais auto-estima que eu . Que se sabem priorizar .
Eu não aprendi a priorizar -me na vida . Tive uma mãe fantástica para os meus irmãos, fantástica com os seus pais e muitas memórias desde muito pequena em que pena era que não fosse bonita como ela . Isto e outras coisas que me faziam sofrer tanto que assim que perdeu o tino e passou a sofrer de Alzheimer , apesar de não conseguir ser má nem tenha que o ser , não a vou visitar ao lar . Cheguei a ir mas neste momento ela não me conhece e temo sempre despertar nela os maus sentimentos e a culpa de existir que sempre me fez sentir .
E não quero que sofra , porque acredito que para uma mãe lidar com um ódio que não consegue explicar por um filho não seja agradável . Então ligo quando consigo a saber dela. Lamento muito a gravidade da doença que tem . Mas a minha psiquiatra que por acaso é a do lar que onde ela está internada proibiu -me de a visitar devido ao meu estado , sofro de transtorno bipolar tipo II e se puder evitar alguns gatilhos , evito . De vez em quando temos que estar em primeiro lugar .
Lutem , afastem -se de quem vos faz mal, cortem de vez . Existem abrigos , existe a casa de uma amiga durante uns tempos , de alguma familiar ou o número da polÃcia quando se tornar insustentável .
Existe também o estatuto de vÃtima . Uma sinalização que após avaliação médica pode ficar na vossa fixa no centro de saúde e reforçará qualquer que seja a decisão que tomem .
Sejam felizes . Espero voltar
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