Terei sempre dificuldades em lidar com a morte.
Primeiro, foi o meu pai.
Tinha 15 anos e entrei com os meus avós, mãe e uma tia-avó numa morgue onde supostamente receberÃamos o corpo do pai.
Ninguém nos prepara para uma situação daquelas, independentemente da idade que tenhamos, e ainda que nos preparássemos o choque não seria menor.
Colocarem uma urna aberta à nossa frente, com alguém que amamos mais que à própria vida causou danos em todos quantos lá estavam.
Nunca se esquece.
Ao longo da minha vida tenho perdido amigas, familiares e continuo a pensar na morte como a pior das situações. A morte perturba-me seriamente. Tenho dificuldade em “fazer o luto” e sinto-me eternamente presa na fase do choque e negação.
Há cerca de dois anos fiz um post por aqui quando soube que cinco ( CINCO) amigas tinham sido diagnosticadas com cancro.
Três venceram-no, uma encontra-se a recuperar e soube há dias que a querida Raquel não tinha sobrevivido.
Culpo-me de não a ter ido visitar. Quando me convidou, pela altura do Natal, senti-me covarde. Sabia que iria ser uma despedida, apesar da sua força constante e resiliência.
A Raquel era uma mulher da minha idade que emanava luz. Penso que nunca a ouvi dizer mal de ninguém. Sempre rimos muito, conversamos imenso e muitas foram as vezes em que eu e amigas em comum comentávamos que gostarÃamos de falar mais, ajudar, mas ela nem sempre permitia.
A Raquel não queria que tivessem pena dela.
Tinha uma esperança imensa de poder viver o mais possÃvel, mas ao mesmo tempo a certeza que o seu dia de partir estava para breve.
DespedÃamo-nos sempre com um “gosto muito de ti”.
A última vez que falámos ( longe de saber isso) perguntei-lhe se tinha medo.
Respondeu que tinha medo da morte, sim. De deixar de respirar. Do que aconteceria depois.
A morte da Raquel deixou a mim e a amigos e amigas em comum muito tristes.
Foi-nos roubada. Era nova demais, boa demais, e, sofreu demais.
Ainda não acredito que não volto a falar com ela. Para dizer a verdade continuo a escrever-lhe para o messenger, como se ela me pudesse ler.
Sei que a Raquel queria que celebrássemos a sua vida, mais que chorar a sua morte. Que vivêssemos o que ela não terá a oportunidade de viver.
Um dia, vamos voltar a reunir-nos. Todos que sentimos já a tua falta.
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