Amar a diferença

Sempre protegi muito o meu filho mais velho, primeiro por razões relativas a situações menos agradáveis derivado ao relacionamento com o seu progenitor, depois, porque sempre foi um menino que vivia no Mundo da Lua.

Aprendeu a ler no primeiro período do primeiro ano da escola. No segundo período começou a ler Eragon, Senhor dos Anéis, etc.
Como fui mãe solteira durante 5 anos, achava o máximo aquele filho que se entretia horas a brincar sozinho. Que nunca gostou de bonecos, tinha paixão por carros e aos 3 anos já sabia marcas e modelos, ano de construção etc. Aliás uma das prendas que ganhou de um ex namorado meu foi um livro sobre isso. 
Adaptou- se ao jardim de infância, nunca fez birras, nunca foi de exigir brinquedos. 
Quando nasceu o Santiago, comecei a notar a diferença entre os dois. À medida que cresciam, apercebia-me que o Santiago era muito mais desenrascado, atento, emotivo e exigia atenção. Enquanto que o Henrique vivia no Mundo dele, raramente brincava com o irmão que sempre o idolatrou.
Passamos por algumas situações preocupantes. De muito stress. Que nos afectaram a todos. E o Henrique começou a demonstrar nervosismo, muitos tiques, cada vez parecia morar mais no Mundo dele.
Começou a ser acompanhado por uma psicóloga forense devido a uma situação infeliz provocada pelo pai. 
Afastaram- se e aos poucos o menino foi voltando ao seu " normal".
Sempre isolado, por mais que o tentasse arrancar de casa. A pior coisa para ele era ir a uma festa, um jardim, socializar para ele é a maior perda de tempo de sempre. 
Nunca estudou. Nunca. E sempre foi o melhor aluno. Esta no nono ano e tem vários 5.
No entanto, há umas semanas atrás comecei a priva-lo do computador, algo que ele é completamente viciado.  E ele entrou quase em abstinência. Algo que nunca vi. 
Disse- me que não conseguia controlar, chorava, não se conseguia explicar.
Por exemplo, pedir ao Henrique que nos faça um recado que o obrigue a conversar com alguém é a pior coisa que lhe podem fazer. Atrapalha- se, confunde- se , sente-se  frustrado. Volta para trás.
Durante anos, " embirramos" porque achávamos que era preguiçoso, não tinha iniciativa, bloqueava, estava sempre alheio a tudo. Detesta cumprimentar as pessoas. 
Hoje, fui a uma consulta de pedopsiquiatria, depois de milhentas psicólogas etc etc.
O Henrique tem Perturbação do Espectro Autista. Ou seja, o que era chamado de Asperger. No nível 1. São pessoas normais, com um quoficiente superior de inteligência, que preferem atividades em que se sintam no mundo deles, e o computador é aquilo que o faz sentir focado. É muito difícil ter uma conversa com o Henrique porque ele bloqueia. 
Por incrível que possa parecer, não fiquei chocada ou triste. Fiquei até aliviada porque aquilo que eu pensava ser um defeito, é afinal uma característica dele. 
Pensa de forma diferente, logo todo o seu Mundo é visto por ele de forma diferente. 
Pode fazer uma vida perfeitamente normal, embora a tendência seja para se isolarem cada vez mais. Mas, felizmente, existem fármacos que ajudam na ansiedade, tiques, e outros aspetos comuns na sua realidade.
Irão parar certamente os telefonemas do diretor de turma porque o Henrique não anda com os colegas , que gosta de almoçar e estar sozinho nos intervalos, seja com um livro, seja com o que for.
O Henrique já decidiu que queria ser psicólogo ( há mais de um ano), no entanto, a psiquiatra disse- lhe que cerca de 80% dos engenheiros informáticos têm Asperger, então, não sei se não haverão alterações no que escolherá para o futuro. 
Sei que não gostou de ter um nome para a sua " diferença". Como ele sabe que tudo faremos para melhorar a sua qualidade de vida, e, creio que a partir de agora tudo será mais fácil. 
Sempre tive um orgulho enorme no Henrique. Para terem ideia, ele fala e pensa em Inglês desde cerca dos 10 anos. Eu sempre achei que tinha a ver com os jogos, mas desde essa altura que ele lê tudo em inglês. Livros. Não precisa de legendas quando vê filmes. Embora seja complicado mantê-lo quieto para assistir a um filme completo.
Sei que existem muitas mães de meninos especiais. E o facto de ser um autismo tão leve possibilita- o a fazer uma vida normal, independente, embora com dificuldades em socializar. 


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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

10 comentários

  1. Vai korrer tudo bem...
    É um menino de ouro...
    Forca e felicidades...

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  2. Não sei o que dizer Martinha,apenas que os teus filhos são lindos,com ou sem diferenças!!!

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  3. Se calhar é mais complicado p ele lidar c o mundo "estranho" q o rodeia do q própriamente p os q convivem c ele. São pessoas diferentes. Mas não somos todos diferentes!? ��

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  4. Adorei a forma como te referiste ao teu filho, que vive no mundo da lua. Para nós é tão igual aos irmãos que vivem mais com os pés na terra. Amor e carinho é o que mais precisam.

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  5. Já trabalhei com casos de Asperger e Autismo enquanto professora e é muito mas muito mais simples do que parece. Se precisar, disponha.

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  6. Alo Marta, eu te compreendo porque tenho um filho com mesmos sintomas, tambem com problemas com o pai (que o chamava de burro e que eu so queria provar que meu filho era um genio), eu nao tive a facilidade dos medicos que voce teve, nos viviamos no Chile onde uma crianca tem que ficar sentada e comportada 45 mim, o jardim de infacia tentou coloca-lo para fora, com a alegacao de que meu filho nao falava alemao (ele fala hoje 5 idiomas) na epoca ele falava 3 idiomas fluente com 3 anos aos cinco ja cozinhava e ja tinha completo dominio do PC, sabia de cor e salteado tudo sobre dinosaurios, mais era tratado como burro e colocado de lado...no psiquiatra ele teve que tomar Ritalin, eu sentia meu filho em uma jaula encurralado, era tao triste para mim nao encontrar uma solucao para os problemas do meu filho. Aqui na Alemanha os medicos nao queriam colocar um rotulo nele, os anos se passando e meu filho sem o devido tratamento, com varias passagem por clinicas psiquiatricas, ate que ele foi para um internato...eu sinto que meu filho me ama, mas existe uma distacia enorme mas nossa comunicacao agora esta melhor. Hoje ele ja e um homem com 24 anos, ele ja se relaciona com poucas pessoas, ja fala em publico (A formatura do ginasio foi ele quem narrou e ainda fez participacao no teatro), ja vive sozinho, resolve todos os assuntos burocraticos inclusive indo direto resolver seus problemas e continua estudando. Os tiques dele continuam, mas hoje ele ja sabe e consegui manter o controle de si mesmo....E a sociedade ja nao o descrimina.

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  7. É um menino muito especial, felicidades 😘

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  8. Muitas outras mães estariam agora tristes e assustadas... O teu discurso deixou-me muito sensibilizada... Mostrou bem o tipo de pessoa que és e a família maravilhosa que estás a criar 😀😘
    Rita

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  9. Devido à minha profissão já trabalhei com várias crianças com Asperger e acredite que poucos foram os pais que aceitaram a diferença dos seus filhos com a naturalidade e sobretudo tranquilidade que a Marta demonstra. Parabéns!! Vai tudo correr bem!

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  10. Olá Marta... alem de blogueira, sou medica psicanalista e especialista em autismo de alto funcionamento. Na verdade, eu mesma sou autista de alto funcionamento e meus dois filhos. E o que mais aprendi sobre quem sou, é que que não é minimamente uma deficiencia. É uma vantagem evolutiva. Talvez não para quem nos cerca de perto...hehehe mas a nós, apenas nos faz bem ser como somos, principalmente quando temos vosso apoio.
    Agora estamos de volta à Portugal... podemos combinar um café. Não sei se conhece algum "Aspie" adulto...
    Não leio blogs, não sou um nome conhecido para vcs dos "meio das blogueiras" mesmo que tenha centos de mil seguidores, socialiazar não é comigo...
    Minha irmã hoje quem me indicou seu texto, ahh...os irmãos são nossa ponte com o mundo social na infância e agora.

    E sou Mestre em Neuropsicologia clinica, por isso... há uma grande chance de teu menino ser pscicólogo.
    Não deixe que lhe direccionem as metas. Nós não sonhamos em ser, temos objetivos a fazer.

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