Parabéns

Dia 30 fez anos a minha mãe. 
Aquela que quando fiz 15 anos e o meu pai morreu, deu à sola para refazer a vida e só levou a minha irmã. 
Aquela que disse que eu não era responsabilidade dela, mas da minha avó  paterna que me acolheu, apesar de dilacerada com a perda de um filho. 
Aquela a quem tantas vezes dei, ofereci, emprestei e em troca dizia nas minhas costas o pior que possam imaginar.
Há uns anos tive que tomar uma decisão  ,deixar ir, ou continuar afundada agarrada à pedra que esta dor me causa a. Toda a vida me senti órfã de mãe. Ou porque (segundo ela) era feia, ou porque era uma pena não ter a cara dela, ou porque era arrogante. 
Nunca fui arrogante. Foi ela que ao destratratar--me me ensinou a não permitir que me pisassem. 
Mas ela sempre pode. Afinal, é mãe. 
É muito difícil a desvinculação, por mais fraca que seja a relação. Nunca nos demos mal. Tivemos algumas discussões provocadas por mim que queria que me explicasse porque nunca me amou ou tratou como aos meus irmãos. 
  A minha avó materna chegou a contar-me que deu com ela grávida de 5 meses , de mim , com uma faca a tentar esfaquear a barriga e a gritar que não queria. Não me queria.  Acho que tudo começou ai. Fui um trauma para ela. Obrigaram-na a ser minha mãe. Fosse eu quem fosse, como fosse estava marcada para que me rejeitasse ou tratasse de forma diferente.
Foi mãe aos 19, e descobrimos há algum tempo que sofre de demência e Alzheimer precoce. Para mim foi um choque. O que é curioso é que a doença fez com que ela se tornasse ainda mais ríspida comigo. Que me evitasse ainda mais. Então, pensando em mim, porque ninguém merece viver em rejeição permanente, decidi que não merecia passar mais por isso. E sim, convido-a para os aniversários, trato-a bem, doi-me a sua dor, sinto impotência ao saber que não volta a ser uma " pessoa normal".
Já passei tardes com ela, por minha iniciativa e confesso que o fiz pelo meu padrasto, que nunca tendp vivido comigo é um marido incrível e acredito que goste de mim tanto quanto eu dele, estando sempre disponível para os meus azares domésticos ( avarias, inundações e sei lá mais o quê, afinal são 30 anos de óptimo relacionamento entre nós). Disse-lhe que fosse fazer o que quisesse que eu tomaria conta dela. Assim foi. Foi correr, trabalhar, visitar a mãe , etc. 
E eu fiquei com uma mãe que nunca se preocupou muito comigo a fazer birras e a dizer-me as mesmas coisas vezes sem conta. 
Tenho muita pena dela. Muita. 
Como alguns sabem, cuido da minha avó, a que me criou, que tem 92 anos. Não me posso dividir nem consigo fazer mais do que faço. 
 Vou ligar-lhe a dar os parabéns, e ser despachada naquele tom de quem está a ser incomodado. 
Mas sabem o que aprendi com tudo isto?
Que a culpa não é minha. Nunca foi. Aprendi a por o coração ao largo, apesar de realmente lamentar muito pela doença que a cada dia a vai destruindo. 
No fundo, o Alzheimer e a demência fez com que eu levasse duas chapadas da vida e perdesse a esperança de que alguma vez   ela viria a comportar-se ou armar-me como mãe. Impossível. 
Quando não podemos mudar algo temos que aprender a viver com isso. Mesmo que signifique abdicar de sonhos ou desejos. 
Tenho a agradecer-lhe efetivamente a vida. 
E o facto de o seu desamor me ter tornado na mãe mais galinha que os meus filhos podiam ter. 
Parabéns Margarida.  Desejo que sofras o menos possível. Que recuperes o sorriso que tinhas. Pelos meus irmãos, e pelo marido

Mar no Baleal


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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

1 comentários

  1. Parabéns Marta!
    Por apesar de tudo por se ter tornado nessa pessoa Maravilhosa que sigo há anos...
    Perdoamos mas nao esquecemos...
    Bola para a frente que a Vida é muito curta.Sorte e muita saúde. Beijinho

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