Hoje , à hora de almoço não segurei as saudades e corri ao último sítio onde vi o teu corpo, e te abracei.
Falei.Era bom que tivesse sido para ti, e para o pai, mas falei sozinha.
As saudades deviam morrer com a pessoa. A dor não passa, nem o desespero e a infelicidade de te saber no passado. Acabaste. Morreste. Deixaste-me. E , talvez perante os outros , seja aceitavel a tua morte , porque já “ tinhas muita idade”, mas no meu coração jamais tiveste idade. Eras e continuas a ser o meu idolo. O meu protetor. Sempre fiz tudo para que sorrisses. Não partiste sem que te dissesse que te amava muito.
Só não concebo este Mundo sem ti.
Hoje, quando me dirigi ao “jardim “ onde moras agora recordei o dia em que lá ficaste, e eu completamente descontrolada conduzia aos gritos num choro histérico.
Queria ter tido mais tempo para me despedir. Pergunto- me quem terá inventado que quando os nossos amores morrem os temos que enterrar e ir para casa como se não nos tivessemos acabado de “desfazer” de quem amamos.
Nunca aceitarei os rituais funerários. Não aceito que o teu corpo já não exista. Não aceito que quem te ame consiga assistir a baixarem o teu corpo à terra. Não consegui ver. Mas sempre que vou ter contigo morro um pouco, porque sei que ali estás. Os braços que me abraçaram, os melhores colos que eu tive estão ali. Os homens que mais me amaram. Tu e o pai.
Passaram cinco meses e a dor não passa.
Não, não te queria ver sofrer como vi tantos anos o pai. E já estavas a sofrer. Mas tu prometeste que vivias mais! Merda do Alzheimer que te tornou vulnerável e te roubou de mim.
Vais ser sempre o meu menino. Meu avô, pai e filho. Tão carente no final.
Indefeso e frágil. Por isso não quero chegar à idade que tinhas. Não quero.
Tenho muita pena de não acreditar que um dia nos vamos voltar a ver. Quem me dera ter a tua fé.
É doloroso viver sem ti.
Não vejo nada de positivo no facto de já cá não estares.
Sei que morreste a saber o quanto te amo. Porque nem a morte mata o Amor que guardo cá dentro.
Amo-te Avô.
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