A Fé

Falava hoje de Fé com uma amiga querida, enquanto os meus avós namoravam no lar onde o meu avô está, quando uma funcionária do mesmo pergunta quem quer assistir à missa.
A minha familia paterna  foi responsável por tudo o que sei sobre Deus, Biblia, Santos , Fátima e esta miscelânea de tópicos de que é composta a Igreja Católica. Sempre me considerei mais Cristã que Católica, custa-me a crer nesta instituição que move para além da Fé, outros interesses.
Mas a verdade é que crer em algo é positivo para o ser humano.As vicissitudes da vida deixam de ser becos sem saída e tudo passa a ser possível, até porque, em boa verdade o é.
O meu avô, nos seus momentos de clareza de pensamento , fala ainda muito em ir à missa, pelo que me lembrei em acompanha-los até à Capela que fica no Lar ( quase os arrastei), porque há muitos anos , desde o inicio da doença do meu avô, que não assistiam a nenhuma missa, e eu, mesmo não sendo praticante(nem apreciadora que Deus me perdoe mas só me apanham em missais em casamentos e funerais), acabei por ser a grande "apanhada"'
Imaginem então, uma Sala cheia de idosos.Alguns em cadeiras de rodas, todos bastante atentos ao que o Sr Padre diz.
Nos seus rostos, a gratidão de estarem vivos, e terem a bênção de mais um sabado  e poderem estar em comunhão, naquilo que para eles é uma reunião quase que familiar com um representante de Deus.
O padre, um franciscano, provavelmente mais novo que eu, falava-lhes com doçura e calma,como se estivesse a dar-lhes uma lição, e ia-lhes colocando pequenas questões, de forma a captar e manter a sua atenção.
Perguntou-lhes qual era o sentido do Caminho da Vida.Vejo o meu avô e avó sentados a trocarem mimos. Ele aponta- lhes e diz : "É o Amor".
Captou a minha atenção e cativou-me.
Entretanto pediu-me que lesse uma passagem da Biblia e, que se quisesse cantasse o "Aleluia".
Entre a vontade de fugir e a vontade de me sentir incluida e fazer parte de algo tão bonito,atirei para detrás das costas a timidez, e,na minha melhor voz li para aqueles " espetadores" tão especiais.
Fui agraciada com sorrisos e olhares de gratidão, de pessoas que já tiveram a minha idade, e agora com mais que o dobro conseguem ter a gentileza, de após vidas inteiras ( umas mais dificeis que outras) serem meigas e amigas umas das outras.
A senhora que estava atras do meu avô, passou o tempo todo a ajuda-lo. A demência faz com que repita as mesmas questões vezes sem conta:" Mas este aqui é padre?"
E tirava papeis do bolso , dobrava, rasgava, voltava a por no bolso.
Incrível. Num lar, entre utentes haver entreajuda quando todos são no fundo dependentes de cuidados por parte de outras pessoas.
Foi breve, a Eucaristia. O ritual habitual que a maior parte de nós conhece, mas sem metade das leituras.  No fim, os idosos agradeceram ao padre. E pediram que voltasse.
Não sei explicar bem a razão, mas mexeu comigo. Sempre tive noção que temos muito a aprender com os mais velhos. Que estão num grau de sabedoria superior. Dá vontade de perguntar-lhes o que fariam se voltassem à minha idade, para que não fique nada por fazer.
O avô ficou contente. Beijou-me mil vezes na testa. Estava cansado.
São os únicos pais que tenho, e, agradeço por isso todos os dias.
Mas, creio que vejo a Fé de forma diferente que os meus avós. Está a perder-se ou a ganhar outros nomes ,e aos meus filhos, faltam-lhes bases para sequer poderem escolher uma religião. Nunca dei muita importância à educação religiosa, mas tenho agora consciência de que a que tive, mesmo quase levada ao extremo, ensinou-me muita coisa. Nomeadamente a observar e pensar por mim.
Por vezes precisamos de passar por situações limite. Daquelas que magoam. Que quase nos matam. Quanto maior a tristeza, maior a aprendizagem. O facto de superarmos torna-nos conscientes da nossa fragilidade,não somos mais que um grão de areia. Mas,apercebemo-nos também da nossa força. Muitas vezes temos que ser a agua que contorna os obstáculos, em vez de ir contra eles.
Tenha eu um rosto pacifico e cheio de paz e Fé, como os rostos que vi hoje,não só na etapa final da minha vida, mas em cada momento dela.

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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

6 comentários

  1. Adorei este texto Marta, tal como te disse, tu saberias expor como ninguém este assunto.Eu estudei num colégio católico, fiz as comunhões todas mas não me sjnto católica.Sinto-me Cristã e sou uma pessoa de fé.

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  2. Uau Marta.... Tu tens uma capacidade extrema de me embrulhares os estômago. As tuas palavras mexeram comigo de uma forma estrondosa. Tu sabes como eu sou com a família. A família para mim é tudo.
    Muita força Marta e um beijo aos avós.

    BeijinhoBom
    LY 💖

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  3. Que bonito texto Marta, tão bom o que partilhas connosco, obrigada!

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  4. Gosto sempre tanto de te ler :-)
    Principalmente estes textos que saem do coração....
    Eu gosto muito de ir à missa,não por obrigação,mas quando me apetece de verdade....
    Beijinho Martita

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