O que tenho guardado

Há uns anos, aquando o diagnóstico de Alzheimer do meu avô, iniciei crónicas sobre o tema. O receio que tinha que se esquecesse de mim, o declinar de um estado normal de saúde para a perda a fala, do andar.
Felizmente, e contra todas as expectativas, ele melhorou. Voltou a falar,a andar, e, apesar de ter esquecido uma grande parte da sua vida e passado recente, conseguiu com a frequência num Centro de Dia e acompanhamento por neurologistas do Centro Neurológico Sénior ter uma vida o mais próximo do normal que podia.
Ainda não vos tinha contado, porque me tem faltado a coragem, e, cada vez que toco neste assunto em público me doi.
Falamos no homem que me criou quando fiquei sem pai. Ele e a minha avó.
Nos últimos dois meses teve um agravamento geral no estado de saúde. Internamentos, diagnósticos de neoplasia, insuficiência renal, pneumonia e avcs.
O Alzheimer piorou. Decidimos em família, e a custo,interna-lo no Lar onde frequentava o Centro de Dia.
É muito complicado para a minha avó cuidar de um doente com esta patologia, primas e tias moram todas longe e temos filhos, trabalhamos, tentámos evitar mas, era a unica forma de o sabermos bem cuidado, com cuidados de enfermagem a qualquer hora,ter a certeza que a medicação era tomada em condições , higiene feita por profissionais habituadas.
Não é fácil. A sensação que temos é entre estarmos a largar num sitio estranho uma pessoa que amamos, e estarmos a fazer o melhor para ele , uma vez que a doença neurológica dele obriga a uma capacidade para a qual não estamos preparados. Força, paciência,compreensão. Nunca lhe faltamos com nada, mas, chegou a cair a meio da noite no chão e eu ter que ir levanta-lo.Não moramos na mesma localidade, a família vivia com o coração nas mãos.
Hoje, fomos visita-lo. E pela primeira vez, apesar de ser meigo comigo,nao sabia quem eu era. Tal como em casa, não quer comer. O semblante é triste.
Perguntou -nos se precisavamos de moedas, disse que se calhar amanhã não o visitavamos,porque já não estaria cá.
Diz que não consegue dormir de noite.Tal como em casa.
Doi a alma , ver no que um homem sábio, forte, determinado, se tornou.
Bem sei que é o decurso natural da vida,mas espero sinceramente não viver tanto . Noto que vive entre este Mundo e o passado. Que por vezes o esquecimento é total e se sente perdido.
É isso que vejo nos olhos dele.Alguem perdido e triste.
Ainda me perguntam porque não quero envelhecer...
Porque infelizmente temos prazo de validade. Uns mais alargado, outros menos.
Resta-nos visita-lo o mais que conseguirmos. Dar todo o Amor que nos for possivel demonstrar. Como sempre fiz.
Sinto-me impotente perante isto.
Somos tão pouco.

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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

2 comentários

  1. Verdade. Não somos nada! Olhar para uma pessoa que sempre foi forte e agora vê-la neste estado é muito triste.
    Força!

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  2. :( não é fácil mesmo :( imagino como esteja o teu coração :( mas pensa que teve uma vida cheia convosco ♥

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