O Encontro

As ruas estavam cheias de gente.

 Maria não conseguia distinguir ninguém na multidão. 
Tinha- se esquecido de combinar com as amigas, ou talvez duvidasse da sua própria vontade de sair à ultima da hora. 
Já não tinha sequer coragem de marcar saídas nem jantares, acabando sempre pela cobardia de nem aparecer e simplesmente silenciar o telemóvel para não ser incomodada. 
Não conhecia bem aquela cidade, que ficava perto da sua, e, ao enorme desfile anual tinha- se juntado nas ruas paralelas manifestações de um número incrível de jovens insatisfeitos com a prestação do governo local. 
Anoitecia, e nem isso afastava aquele mar de gente, um pouco por toda a cidade.
Maria sentia- se invisível, e gostava disso.
 Estava cansada da sensação de estar a ser observada, vigiada, que reparassem em tudo o que fazia.
 Aproximou- se de um dos muitos balcões de bar espalhados pelas ruas e decidiu beber, num gesto talvez adolescente, tentando de alguma forma sentir- se parte do mundo.
Como não estava habituada, bastaram três copos para se sentir descontraída e enturmada
Deu por si no meio de dezenas de pessoas que tentavam entrar num bar de primeiro andar com escadas de acesso  exteriores largas, em pedra.
Estava a responder a alguém que como ela tinha bebido demais, quando sentiu uma mão agarrar- se à sua.


Uma mão quente. Do tamanho da sua, ou pouco maior. 
Em segundos, um rosto sorridente encosta- se ao seu, de frente. Com uma expressão atrevida.
“- Não te importas que te dê a mão, não?”
Maria engoliu em seco. 
Queria fazer um ar de zangada mas o seu rosto foi tomado por um sorriso. Vontade de rir.  
O dono da mão quente era um homem jovem, com uns imensos olhos azuis, um sorriso branco, irresistível, com cabelo castanho escuro, ondulado, que o fazia parecer uma criança reguila. 
Vestia uma camisola cinzenta, de aspeto comum, e pareceu- lhe o homem mais bonito do mundo.
Maria não conseguiu responder. Mas também não conseguiu tirar o enorme sorriso que tinha estampado na cara. 
Pouco depois, estavam já dentro do bar. Sem falar. A sorrir um para o outro e a beber. A sua consciência estava parcialmente afetada. Provavelmente do álcool. Sabia que toda aquela gente estava a fazer imenso barulho mas, não ouvia nada. 
Limitava- se a sentir o calor do corpo dele, encostado a ela, e a olhar para o seu sorriso.
Sentia o coração bater velozmente, tremor por todo o corpo, e pensou que nunca mais seria capaz de viver sem aquele rosto perto de si, sem estar de frente àquele olhar. Não imaginava outra fonte de felicidade que não fosse aquele sorriso que sentia conhecer desde sempre.
Passado algum tempo, Maria não sabia dizer quanto, os manifestantes entraram na mesma rua do desfile, e o homem que a segurava correu de mãos dadas com ela, para uma zona com menos pessoas. 
Maria sentia- se uma carraça! Não queria largá-lo por nada deste mundo!
Não era a beleza dele que a estava a chocar e hipnotizar, mas aquilo que estava a sentir. 
“- Queres subir? O meu pai tem aqui um apartamento, deve ser mais calmo que estar na rua... a casa é um bocado antiga mas de certeza que não vais ter tanto frio como na rua! Moras por aqui? Queres que te vá por a casa? “
Maria não conseguia falar. Estava assoberbada pela emoção que não conseguia explicar. Sentia que toda a vida tinha esperado, não por aquele homem, mas por aquele sentimento e emoção. 
Não importava o que viria depois. Qual orgasmo??? A empatia que estava a sentir era melhor que orgasmos, chocolate e leite condensado. Melhor até que fazer compras desnecessárias ou matar a fome! 
Ele parou de sorrir, preocupado.
“ - Sentes- te bem?”
Maria respirou fundo. Pensou que provavelmente acabava ali a magia. Era sempre assim. Ela estragava tudo. Mas, chegara a hora de dizer alguma coisa. Algo que provavelmente o faria fugir. Mas aqueles minutos ou hora que tinham passado juntos tinham feito a vida toda valer a pena. 
Ela sabia que parecia exagero pensar assim. 
“-Desculpa. Acho que bebi demais e... tenho a sensação que te conheço. “
Ele voltou a mostrar- lhe o sorriso que deixava ver os dentes perfeitos, brancos. 
“- Pensei o mesmo quando te vi. E também já bebi alguma coisa... mas nada de mais. É... é estranho não é? “
Maria olhou para baixo envergonhada e sorriu- lhe de volta. 
Ele agarrou- lhe na cintura e beijou- a.
 Primeiro devagarinho, um beijo rápido.
 Depois um beijo que não queria acabar. Ela não queria que acabasse... 
“- Estou a adorar beijar - te aqui, mas, importas- te se subirmos?”- diz a rir apontando- lhe a porta de um prédio.
Jamais subiria com um estranho para uma casa desconhecida. No entanto,naquele momento pareciam não existir medos, nem passado, e estava longe de sentir a idade que tinha. 
“Sinto- me uma miúda que deu o primeiro beijo”- pensou.
E subiu, feliz, de mãos dadas com ele, na noite mais feliz da sua vida.

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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

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