Guns

Acordo estremunhada... numa fração de segundo assusto- me sem saber onde estou. 

Olho para o meu lado e ele está em tronco nu com a cabeça encostada a uma almofada.
 Parece- me tão jovem... sinto uma espécie de culpa, não me identificando com o sentimento que tinha ontem. 
Levanto- me e vou- me vestindo rapidamente, e por dentro ralho comigo. Ralho muito! 
Onde é que eu estava com a cabeça? O que vale é que não bebia há anos, nem volto a beber tão cedo. 
Nunca o alcool me pregou semelhante partida. 
Não que esteja arrependida do que fiz, mas olhando agora, vejo que me deixei levar por alguma carência provocada por tanta bebida.
 Na verdade foi muito bom sentir- me com 18 anos outra vez. Mas foi o que foi, algo passageiro que não pretendo repetir.
Esgueiro- me para fora do quarto, sentindo uma ponta de culpa por não me despedir.
  Caminho até ao meu carro que está coberto por gelo. 
Enquanto espero que derreta respondo a mensagens da familia e amigas , no telemóvel. Conduzo até um hipermercado à saída da cidade, onde paro para comer alguma coisa.
 Sinto o estômago revirado. Sento- me e reparo no olhar sorridente de um homem ao balcão, estou irritada e faço - lhe má cara. Percebo depois que tenho uma televisão mesmo atrás de mim, e que era para a TV que ele olhava.
 Sinto- me corar e quero fugir daqui. Ele olha- me nos olhos, apercebe- se que estou embaraçada e sorri, realçando as rugas de expressão dos seus olhos.
 Penso para mim que devia ter estado com um homem assim. Mais velho. Moreno. Barba por fazer... mas não. Estive com um miúdo que me apercebo agora nem ter perguntado o nome! Aposto que nem 30 anos tinha... é o que dá estar tanto tempo sem ninguém.
Saio do café e vou para o carro. Dirijo- me a casa, onde ligo às minhas filhas que aproveitaram as férias do pai para passar com ele uns dias.
Morro de saudades, mas a verdade é que me faz bem, ou não! Afinal só fiz disparates!
Desde que terminei o meu último relacionamento que deixei completamente de ter vida social.
Amei muito, mas sofri horrores. Pensei que morria, literalmente. 
Gritei até não mais poder, chorei alto de desespero, cheguei a pensar que não era possível continuar. Logo eu, sempre tão independente. Respiro fundo e vou tomar banho. Penso melhor e logo tenho que voltar a casa do rapaz. Quero saber o nome dele.
 E sinto- me triste pela forma leviana que levei o momento impulsivo de ontem que afinal foi muito bom.
Critico- me demasiado. Exijo muito de mim. Talvez por desesperar de receio de voltar a sofrer como sofri há anos atrás. É isso. Vou ter com ele. Nem o nome sei... 
Visto- me, maquilho- me e decido prender os cabelos num prático rabo de cavalo  subido que me toca nas costas. 
Visto o casaco, pego nas chaves do carro e  vou até à cidade que continua em festa. 
Estaciono longe da casa dele, para onde me dirijo agora a pé. Toco à campainha, mas ninguém atende. Que tristeza! Dirijo- me às ruas principais onde levo cotoveladas e empurrões da multidão e tento afastar- me para assistir ao desfile de forma mais confortável. Começo a ver toda a gente a correr no sentido contrário ao desfile, aos gritos e, apercebo- me do som do que parecem ser tiros.
No espaço de escassos segundos puxam- me para dentro de um prédio. Estou em pânico mas apercebo- me que reconheço quem me puxou e fico aliviada.
- Anda! Não fiques à vista! Todos os anos há confusões... mas armas de fogo ainda não tinha visto...

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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

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