Os gritos lá fora pararam, e o homem que me puxou para dentro do prédio aproxima-se da porta de entrada.
- Vamos, vamos embora daqui que estes desfiles já deram o que tinham a dar.
Sigo- o e recordo- me da primeira vez que o vi, mais cedo, no café do Hipermercado, a olhar para a televisão e eu, parva, a pensar que me olhava.
A noite está fria e penso que é melhor ir- me embora. Do outro lado da estrada estão ambulâncias, bombeiros e polÃcia já impediram a circulação.
- Desculpa ter- te puxado daquela maneira mas apanhei um susto, percebi que te conhecia e foi quase instintivo.- diz- me enquanto subimos uma rua. Ele para ao pé de um carro escuro.
- Queres que te leve a algum lado?
Devo estar com um ar muito assustado, aproxima- se de mim, abre a porta do lado do pendura e diz- me que entre.
Entra dentro do carro e pergunta- me.
- Tenho quase à saida da cidade. Mas eu posso ir a pé. Não precisa...
- Sei que não me conheces de lado nenhum mas , prefiro por- te em segurança no carro. Pode ser?
Aceno que sim.
Entramos pela marginal e aponta- me o letreiro de um hotel.
- Estão a fazer uma festa ali no Hotel, na praia. Queres passar por lá?
Sorrio e aceno afirmativamente.
- Podemos ir. Deixei o carro a 100 metros do Hotel.
Estaciona pouco tempo depois e sorri- me.
Respira fundo.
- Venho cá menos vezes que gostaria. E tive que ficar num Hotel porque o meu filho está com a namorada em casa e não o quero estar à incomodar.
Sorrio- lhe.
- Sacrificios a vida toda, não é? - pergunto
- É. Um miúdo incrÃvel. Aliás, se não te importas vou ligar- lhe ... acho que não ia sair mas aquele tiroteio não me sai da cabeça.
Vamos até à tal festa na praia e, mais uma vez pergunto- me o que se passará comigo que em dois dias me vejo sair com dois desconhecidos.
A dita festa passa- se num bar em madeira, em ambiente calmo e sossegado, que normalmente me aborreceria de morte, mas depois de toda a confusão no centro da cidade sinto ser mesmo o que preciso. Se fosse para casa já não ia conseguir dormir. Sentamo- nos a uma mesa e dou por mim a pedir vodka.
Ele pede igual.
Olha- me e sorri- me.
- Não tenho uma televisão atrás de mim, não?- pergunto.
- Não...
Trazem as bebidas e bebo a minha de um só trago. Peço outra.
- Hey... vai com calma... ficas mal disposta- diz num tom doce, com a sua voz meio rouca.
- Depois de ontem, acho que já não me faz o mesmo efeito- rio
- O que se passou ontem?- pergunta curioso
Respiro fundo. Não quero falar de mais, mas honestamente , não vou estar com este homem, provavelmente nunca mais o vejo...
- Acho que conheci uma alma gémea ou algo que o valha...- desabafo
- Explica- diz levando o copo à boca.
- Saà sozinha, e... acabei acompanhada. Nem eu percebi muito bem o que se passou. Bebi demais e...- percebo- me que soou mal e tento remediar- eu não costumo beber, mas estava frio, sentia- me sozinha, não disse às minhas amigas que vinha e enfim... acabei por me envolver... ah, esquece... já passou.
Olha para mim com um sorriso gozão.
- Não te cobres tanto. Aconteceu. É para repetir?- pergunta
Faço sinal à rapariga do bar para me trazer mais uma bebida e respondo - lhe
- O que se passou ontem? Não. Nem pensar. Foi uma aventura imatura...
- Como as aventuras devem ser...- diz- me
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