Meu Amor

Desde que partiste mudei.
Ergui muros , e ninguém percebeu. 
É difícil deixar que algo me afecte depois da dor que foi a tua perda e a dormência que sinto todos os dias. Continuo a enfrentar o que me rodeia mas... porque te prometi cuidar de tudo. 

Às vezes penso ver-te na rua, com o teu chapéu e blazer. Eras único. 
Durante a maior parte da minha vida foste meu avô, pai e melhor amigo, e não tinha segredos para ti. 
Ainda não aceito. Não acredito. É impossível que tenhas partido para um doloroso sempre. E que nunca mais ouvirei a tua voz. 
Em cada dilema , pergunto me qual seria a tua opinião. Geralmente ajo de forma oposta. Sempre foste o sensato ,o irrepreensível, correto. Pensavas em cada passo que davas.
Eu sempre fui mais abrutalhada, mais impulsiva, mas sei, que na maior parte das vezes gostavas da minha espontaneidade.
Surpreendia- te. Sorrias perante a minha forma de ver a vida. Entendias- me. Sabias que para acertar na vida há que errar até aprender.
Sabias que certos erros são bons de se cometer. 
Cada vez que penso em ti, sinto uma dor física no peito. Parece que  me arrancaram parte do coração..
Passei os últimos vinte anos, ou mais a tentar que fosses o mais feliz possível. 
E estive sempre lá. Em cada momento.
 Não deixei nada por dizer-te. Sabes que sou a tua Rainha das Palavras.
A gratidão que sinto por ti é infinita.
 E no entanto, eras tu que passavas a vida a agradecer, como se fosse para mim algum sacrifício valer- te.
 Não consigo viver como os demais " Ah já viveu muito, era velhote".
Trocava- os todos por ti. 
Nem todos foram dotados de sensibilidade, e o mais grave é que sequer sabem que tal existe. Somos todos diferentes, e a diferença não nos faz piores. Mas, a escolher, apesar da dor diária que mora em mim, prefiro ser assim. Ter te tido na minha vida de forma tão intensa . Meu amigo, cúmplice. 
Lamento tanto não ser como tu, crente. 
Queria tanto acreditar que um dia , voltarei a ver-te te sorrir para mim, ou a ter o teu abraço. 
Sempre fui intensa. 
Todas as noites espero sonhar contigo para matar saudades. É assim que acontece há 26 anos com o meu pai. 
Mas elas não morrem. Morrerei eu primeiro. 
Sinto saudades de quando me falavas de África, ou da tua infância em Peniche, depois em Lisboa. Eras um bom contador de histórias. 
Queria acreditar sabes? Mas, cada vez que vejo uma foto tua a dor ultrapassa- me. 
Ainda não estou preparada para aceitar a perda. Sei que morreste, mas recuso- me a aceitar. Ainda é cedo. Um Amor tão grande não morre assim. 



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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

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