E assim passou uma semana

Depois de uma semana para esquecer, embora receie vir a lembrar-me dela para sempre, vamos tentar fazer um balanço.
Mais velho com papeira, mais novo com uma gripe que dura há  mais de uma semana e já correu mil médicos e outros tantos  hospitais, a partida deste mundo da minha avó materna, o aniversário do meu Henrique, é verdade, já tenho um filho de quinze anos. Não me achava nada nova quando o tive e agora, olhando para trás sinto que fui quase mãe adolescente.
Sábado passado nas urgências do hospital, parece mentira mas, a meio dos tratamentos do Santiago fui quase obrigada por auxiliares e enfermeiras a  também eu dar entrada nas urgências. Isto ,  no Hospital de Torres Vedras. Obrigada  a estas senhoras, por se preocuparem não só com as crianças  que cuidam diariamente , mas por repararem no estado de quem as acompanha. A verdade ,e todas as mães que me lêem sabem, é que nos deixamos sempre para o fim. Temos que ser nós para tudo , sem pensar que se não nos cuidamos corremos o risco de agravar o nosso estado, e para cuidar dos outros temos que estar bem. Como tais senhoras não brincam em serviço, sabem o que dizem, foi me diagnosticada uma infeção respiratória, que felizmente já está medicada. Fiz corticoides em soro, aerossóis, Raios X é um sem número de analises. E eu que ia apenas com o Santi às urgências porque a tosse e febre dele não cediam.
Incrível como tudo isto nos faz crescer. Se aprendemos a lidar com o que nos acontece não sei. Sei apenas que já não sofro metade das preocupações que sofria. É o que é, lida- se com o que tiver que lidar, uma coisa de cada vez, e, por muito que choque, doa, vamos ganhando defesas e força para lidar com tudo.
Ainda morro por dentro e choro cada vez que me lembro do meu avô. Claro que fiquei chocada com a morte daquela que sempre foi a minha " mãe de verão", a querida Maria da Luz,a minha avó que cozia pão para nós, pão que amassava com as próprias mãos.
Da Maria da Luz recordo gargalhadas. Era uma gozona de primeira , apesar de analfabeta tinha mais inteligência numa mão que muita gente no corpo todo.
E era boa. Em toda a essência da sua alma. Desejava bem. Tinha um coração puro e magoado da vida difícil que viveu.
Mas não se queixava.
Bastava um bocado de pão que sorria. Passou muita miséria. Olhou a fome nos olhos e com ela conviveu muitos dias da sua vida.
Odiava manteiga e feijão frade. Cantava e dançava para nós.
Porque serão as pessoas que menos têm as que mais irradiam felicidade?
Levou com ela esse segredo no seu pouco mais que metro e trinta de altura.
Ai o que ela ralhava comigo quando eu era adolescente porque eu não era propriamente uma menina de coro e tinha que sair todas as noites.Baleal, Verão, quem é que fica quieto em casa? Eu não. E ainda levava um grupo de amigas comigo.
E lá estava a Maria da Luz para se rir das nossas histórias e contar também as suas aventuras de rapariga solteira. Aventuras essas que eram sopapos dados a quem ousava a dirigir lhe palavra em tom de piropo.
Tal como disse do meu avô, aliás dos meus dois avós, espero que exista um sítio melhor, porque a existir, a Maria da Luz já lá está a iluminar nos e a rir à gargalhada,aquele som delicioso que nos dava esperança .


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Sobre a autora:

Chamo-me Marta, e sou apaixonada pela escrita e pelo mundo da beleza. Em 2013 , após um curso de maquilhagem profissional decidi juntar os meus dois amores, criando este blogue. Gosto de escrever despudoradamente sobre tudo. Maquilhagem, cuidados com a pele, estética, cirurgia plástica e saúde no geral, assim como partilho aqui algumas das minhas crónicas em que abordo tudo o que é possível e imaginário. Venham daí, conhecer o meu Mundo!

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